Existe muito de imoral nas deliberações em curso pelo governo e mesmo com toda a carga de protestos e de rejeição a ele não param de surgir medidas que chocam a Nação como um todo. Na sequência de erros atrás de erros, a cada semana, o descalabro da vez foi o aumento inacreditável dos recursos destinados ao fundo partidário, uma dinheirama distribuída fartamente pelo Estado para irrigar os já gordos cofres dessas agremiações e bancar as negociatas de seus dirigentes. A aberração segue em voga há 20 anos. Consumiu nesse tempo mais de R$ 4 bilhões em recursos públicos, segundo as contas do Tribunal Superior Eleitoral, e de lá para cá teve um crescimento exponencial de cotação da ordem de 490%. O que ocorreu na semana passada, de todo modo, ultrapassa qualquer nível de compreensão. Para não contrariar os humores políticos, e sob pressão direta do PT para que desse andamento à proposta, a presidente Dilma resolveu simplesmente triplicar a verba destinada a essa rubrica. O governo, que pretendia gastar R$ 289,5 milhões neste ano com a conta, aceitou ser mais generoso e referendou um dote de R$ 867,5 milhões para as legendas. E isso em plena campanha por um ajuste fiscal que, fica cada dia mais evidente, sobrará para ser arcado pela população. A turbinada no Fundo Partidário ocorre em meio ao enfraquecimento notório do poder de barganha de Dilma e teve, segundo assessores próximos, o objetivo de arrebanhar simpatizantes e apoios às suas deliberações. Na surrada tática do toma-lá-dá-cá, perdeu-se de vez a vergonha. Ao sancionar a despesa, Dilma não apenas afrontou o senso comum. Sofreu críticas dos próprios aliados a quem pensava agradar. O presidente do Senado, Renan Calheiros, sem poupar palavras, foi ao ataque: “A presidente fez o que havia de pior. Ela deveria ter vetado, como muitos pediram”. O repasse extra vai custar mais de meio bilhão de reais (exatos R$ 578 milhões) ao Tesouro. O vice-presidente, Michel Temer, que assumiu o papel de bombeiro para apagar os inúmeros incêndios promovidos pelo governo, tentou contornar o problema. Falou na possibilidade de contingenciamento da verba autorizada. Mas teve, logo depois, de voltar atrás dado que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) impede o bloqueio, mesmo em parte, desses recursos depois que eles são sancionados. A derrapagem oficial que desmoralizou o discurso de austeridade vai, mais uma vez, pesar no bolso dos brasileiros, sem dó nem piedade.