Não se sabe se o governo Dilma pensou em Maquiavel ao, na mais recente troca ministerial, retirar poder do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e fortalecer o chefe da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com a mudança no Ministério do Turismo, de onde saiu Vinícius Lage, indicado pelo primeiro, para a chegada de Henrique Alves, apadrinhado pelo segundo. Mas o fato é que a estratégia de fragmentar o exército inimigo – em tese, aliado – deu certo. Na semana passada, o princípio de “dividir para reinar”, um dos pilares da doutrina maquiavélica, desfilou por Brasília.

Na quarta-feira, o rolo compressor de Eduardo Cunha garantiu a aprovação, em segundo turno, na Câmara, do projeto que amplia e regulamenta a terceirização para praticamente todas as atividades profissionais. Defendido por entidades empresariais como Fiesp e Confederação Nacional da Indústria, o PL 4.330 enfrenta forte oposição sindical, que encara a proposta como a pá de cal nos direitos e garantias da Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT varguista.

No entanto, de repente, de onde menos se esperava, os trabalhadores ganharam um forte aliado: o senador Renan, que disse que a terceirização não pode ser “ampla, geral e irrestrita”. Sem pressa, o presidente do Congresso afirmou que o tema passará por várias comissões, como de Direitos Humanos, Constituição e Justiça, Assuntos Econômicos e Assuntos Sociais, antes de chegar ao plenário. “Sem sofreguidão”, garantiu Renan, despertando a ira do (também em tese) aliado Eduardo Cunha. “Engaveta lá, engaveta aqui”, avisou Cunha, sinalizando que projetos de interesse do Senado também poderão parar na Câmara.

Para o governo Dilma, a queda de braço entre os dois caciques peemedebistas, não poderia vir em melhor hora. Afinal, seu governo, mesmo com o vice Michel Temer na articulação política, ainda não encontrou a fórmula ideal para pacificar o Congresso, que tem avançado com uma pauta conservadora. A terceirização é um exemplo, mas o PT também foi derrotado em outros temas, como a redução da maioridade penal.

Como não foi possível conciliar os interesses de Cunha e Renan, quem saiu no lucro foi o próprio governo. Um dia depois da aprovação do PL 4.330, o líder José Guimarães (PT-CE) afirmou que, agora, “a esperança é Renan”. Ou seja, mesmo tendo perdido o Ministério do Turismo, o senador se tornou um aliado mais fiel do que Cunha, que acabou de conquistá-lo. Vai entender… 

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