O Partido dos Trabalhadores, em meio às comemorações dos 35 anos de existência, dá todos os sinais de ter perdido o eixo. Ou, no mínimo, o bom-senso. Nos últimos dias, numa tentativa afobada de resgatar relevância e livrar-se das notórias evidências de uma agremiação marcada por escândalos de toda ordem, lançou um manifesto que é, na essência e no todo, um deboche contra a sociedade. Soa até como provocação. Além de negar os esquemas escusos protagonizados por seus filiados – que vão do assalto a estatais ao fisiologismo escrachado, passando pelo Mensalão, dólares na cueca e inúmeros outros desvios de conduta -, resolveu posar de vítima. Alega existir um movimento de “cerco e aniquilamento” devido às “virtudes” (a palavra que usou é essa mesmo!) do Partido. Extrapola na coreografia de distorção dos fatos. “Perseguem-nos”, diz o documento, apontando o intuito de “inclusive criminalizar” a agremiação. O PT não pede desculpas. Não admite erros. Ao contrário, no seu teatro de absurdos incita o confronto. Diz no manifesto que vai buscar a “radicalidade política”. Prega a volta de bandeiras retrógradas, lançadas quando de sua origem e que não vingaram nem mesmo entre os mais ardorosos defensores. O próprio ex-presidente Lula teve que passar por uma espécie de conversão de ideias antes de se eleger. Hoje o mesmo Lula é dos primeiros a estimular o ódio de classes, consagrando o “nós contra eles” e lançando ameaças abertas ao País, como a de colocar nas ruas o “exército de Stédile”, que chefia a facção radical do MST. Sem autocrítica, o Partido dos Trabalhadores se apequenou. Parece cada vez mais longe dos anseios de ética e justiça perseguidos pela sociedade na esmagadora maioria. Patologicamente, a legenda incita uma guerra ilusória que só dá sinais de existir dentre suas fileiras, onde apaniguados e usuários da máquina pública formam o esquadrão de sabujos servis e bajuladores, ali posicionados com o único intuito de não perder a “boquinha” conquistada via aparelhamento do Estado. Um dos mais tradicionais quadros partidários, Frei Betto, numa rara clarividência vinda das hostes petistas, definiu assim o atual momento: “O PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder. Permanecer no poder se tornou mais importante do que fazer o Brasil deslanchar”. E para aqueles que a sigla imagina serem seus opositores entrou na ordem do dia a defesa de um pacote de maldades que inclui da taxação de fortunas à reforma agrária. Articulações nesse sentido já entraram em curso. Nas reinações dos autores do manifesto está o mal velado desejo de que o Governo atue cada vez mais a serviço do partido, mesmo que em detrimento do interesse da hegemônica massa de brasileiros. Um delírio só explicável pelo tamanho do apetite que alguns ali demonstram ter por continuar a usufruir de benesses sem fim, com o seu, o meu, o nosso dinheiro.