Abril é mês de colheita. Pelo menos em uma das versões para a etimologia da palavra, abril teria origem no latim aprilis, que remete às flores da primavera no hemisfério norte e à germinação das culturas. Colhe-se o que foi plantado. Na natureza como na política.

Abril será um mês de testar nas ruas até onde o ser político que habita em cada um de nós pode e quer ir. Claro que nem toda indignação precisa ser demonstrada em passeatas. Mas pesquisas mostram claramente que a administração da presidente Dilma é rejeitada, neste momento, não apenas por quem não votou nela nas eleições de 2014 mas também por mais da metade daqueles que, nos últimos anos, tenderam a apoiar os governos petistas. A insatisfação em momento tão recente do mandato é inédita e a pergunta é: por que?

Os escândalos de corrupção explicam parte da história. Corrupção é algo que atinge a dignidade da população mais especialmente em momentos de crise econômica. Nem todos os que têm uma carteira assinada, hoje, creditam essa conquista ao PT. Muitos brasileiros atribuem a ocupação que lhes garante a renda mensal ao próprio esforço. Mas, quando o crescimento do desemprego deixar de ser apenas uma ameaça, cada um dos desempregados vai depositar o infortúnio na conta do governo. E vai comparar o volume de dinheiro desviado nos Petrolões com aquele que deixou de pingar na própria conta bancária. Mas também há uma sensação latente na população em geral de que já poderíamos ter mais, ir mais longe, alcançar novas conquistas. Esse mesmo cidadão que comprou computador, carro novo e matriculou o filho na universidade privada com dinheiro da carteira assinada não vê seus impostos investidos naquilo que acredita que merece do lado de fora de sua casa. Sua contribuição não se reflete na qualidade do transporte público, no atendimento nos hospitais, na segurança pública. Esse gosto de “quero mais” levou a oposição ao segundo turno das eleições presidenciais e a um placar apertado a favor de Dilma. E ajuda a justificar tamanha rejeição em tão pouco tempo de mandato – mesmo se tratando de uma reeleição.

Portanto, assim como nos protestos de 2013, quando aumentos pontuais de tarifas de ônibus foram a fagulha de manifestações incendiárias, neste momento qualquer perda em qualidade de vida ou retrocesso nas conquistas econômicas alcançadas na última década pode deflagrar outros movimentos. Há convocações para nova ida às ruas no próximo dia 12. Se desta vez aderirem às passeatas aqueles que já demonstram sua insatisfação nas pesquisas mas ainda não saíram de casa, o governo terá fracassado terrivelmente na tarefa de se comunicar com seu próprio eleitor. O que é fatal para qualquer governo. O eleitor de Dilma, sentindo-se amparado, pode devolver em apoio mais do que necessário nessa hora. Mas o que se vê é uma dramática imobilidade do governo na tarefa de dar a todos os cidadãos, não só ao eleitores de Dilma, as respostas que o País pede. E pede nas ruas. É lá que vai se dar a colheita deste mês de abril. Abril que, aliás, também é mês de Nossa Senhora do Bom Conselho.