O novo filme com Al Pacino parece confirmar que Hollywood está se colocando no espelho. No longa “Último Ato”, inspirado no romance “A Humilhação”, de Philip Roth, ele interpreta Simon Axler, um ator egocêntrico, desajustado e em crise com a profissão. Em cartaz em todo o País, a historia é muito parecida com a de Riggan Thomson, personagem de Michel Keaton em “Birdman”, ganhador do Oscar de melhor filme deste ano. Uma das cenas, inclusive, se repete nas duas produções — aquela na qual o protagonista se tranca para fora de uma porta de incêndio do teatro pouco antes do início do espetáculo. Mas tudo não passa de coincidência, pois o filme do diretor Barry Lavinson foi rodado praticamente ao mesmo tempo do premiado longa do mexicano Alejandro Iñárritu. O que mostra o recente interesse do cinema por seus palcos. E o que está por trás deles.

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DRAMA
Al Pacino como Simon Axler, protagonista de "Último Ato":
semelhanças com "Birdman", Oscar deste ano

Diferentemente do Homem Pássaro, Simon Axler tem bem marcadas as passagens entre suas crises reais e seus momentos delirantes. No livro de Roth, o protagonista tem uma família que o deixa assim que ele começa a se debater com a perda da capacidade de seduzir a plateia. Na adaptação, o ator é um solitário às vésperas de completar 70, que se interna depois de duas tentativas de suicídio. E aí residem alguns dos momentos mais interessantes do longa. Na clínica, todo contato com o mundo é transformado em oportunidade para Axler reafirmar sua tese, segundo a qual todos encenam o ßtempo todo. “O mundo é um grande palco”, repete.

“Último Ato” gerou questionamento inevitável sobre as semelhanças entre intérprete e personagem. “Nenhuma”, respondeu o novaiorquino, que completa 75 anos neste mês e mais de uma vez falou em parar. “Quando Philip Roth escreveu esta história tenho certeza que quis fazer referência ao bloqueio de escritor. Atores não sentem isso. De repente, só não querem mais atuar”, disse. De fato não parece ser esse o momento de Pacino, que segura do começo ao fim o narcisismo magnético de seu personagem e sua visão particular da experiência de humilhação.

Foto: Christie Mullen 

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