A disparada do dólar em 2015 provocou um efeito colateral indigesto: os brasileiros deixaram as viagens internacionais para depois. Segundo um relatório divulgado há alguns dias pelo Banco Central, as despesas no exterior despencaram 26% em fevereiro ante o mesmo período do ano passado. Toda crise, porém, costuma abrir uma janela de oportunidades. Com a queda da demanda, as companhias aéreas e as agências de turismo não tiveram outra saída a não ser reduzir os seus preços. Resultado: dá para comprar a sonhada passagem de ida e volta para Nova York por pouco mais de US$ 400. Se quiser gastar ainda menos, é possível adquirir bilhetes para Buenos Aires por US$ 169, mais ou menos o que um casal gasta para jantar em um restaurante sofisticado de São Paulo. Um levantamento feito pela operadora Agaxtur comparou os preços de passagens praticados há um ano com os valores atuais. A diferença é surpreendente. Em março de 2014, um bilhete para Londres custava US$ 1058, algo como R$ 2,3 mil. Na semana passada a mesma passagem saía por US$ 487, o equivalente a R$ 1,5 mil. Detalhe: isso em período de inflação alta – mas certamente não no setor aéreo.

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As companhias aéreas enfrentam um momento complicado. Na segunda semana de março, um voo da American Airlines saiu de Campinas, no interior de São Paulo, com destino a Nova York praticamente vazio. Dias depois, a empresa anunciou o cancelamento dessa rota pelo menos até que a situação melhore. “A procura por viagens internacionais, principalmente para os Estados Unidos, caiu 20% em 2015”, diz Afonso Gomes Louro, presidente da Virtual Turismo. A forte oscilação do dólar mudou o foco de interesse dos viajantes. Com o euro mais estável, os brasileiros trocaram a viagem para os Estados Unidos por roteiros na Europa. Segundo a agência de viagens CVC, os embarques de brasileiros para os países europeus cresceram mais de 20% no ano passado em relação a 2013. “Se a ocupação não está boa, o avião decola da mesma forma e isso é muito negativo”, diz Mário Carvalho, presidente da companhia portuguesa TAP, que opera diversas rotas no Brasil. “O jeito é fazer promoções em termos de tarifa.”

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PARA ATRAIR CLIENTES
Mário Carvalho, presidente da companhia aérea TAP no Brasil:
"O jeito é fazer promoções de tarifas" 

Para os consumidores, o esforço das companhias para lotar os voos será percebido no bolso. Melhor ainda: a tendência é que os preços baixos continuem por um bom período de tempo. “Quando uma companhia diminuiu o custo de um determinado destino, as outras empresas reduzem os valores também”, diz Aldo Leone Filho, presidente da Agaxtur Viagens. O executivo diz que o perfil dos turistas vai mudar. “O público que compra bilhetes em promoção é diferente daquele que viaja apenas pelo consumo ou por negócios”, afirma. “Esses novos consumidores desejam apenas conhecer um país diferente.” As promoções das companhias aéreas não devem ser apenas para o período de baixa temporada. Segundo Francisco Leme, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens de São Paulo (ABAV-SP), a situação é tão difícil que até quem deixa para viajar nos períodos de férias deve encontrar boas oportunidades no mercado. “Hoje há uma oferta de assentos muito grande e é preciso uma demanda alta para suprir isso”, diz Leme. Como a crise econômica não dá trégua, é provável que os preços caiam mais. O profissional da ABAV dá uma dica: se a pessoa comprar a passagem com bastante antecedência, vai desembolsar ainda menos. Se você precisava de um pretexto para, enfim, viajar ao exterior, a hora certa pode ser agora.

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Fotos: Joao Castellano/istoÉ