O telefone toca no disque-denúncia da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Na linha, um delator anônimo relata o crime que está se tornando comum em tempos de crise hídrica: o roubo de água. O suposto delito está ocorrendo na filial da loja Marisa de Carapicuíba, na região metropolitana da capital paulista. Munida da informação, uma equipe composta por policiais e funcionários da Sabesp vai investigar o furto na segunda-feira 23. Descobre a existência de uma ligação que transfere água da rua diretamente para as torneiras do estabelecimento, sem passar pelo hidrômetro, que desviava 26 mil litros mensais – o suficiente para abastecer uma casa de sete pessoas. O responsável pela unidade foi preso em flagrante e liberado em seguida. Em depoimento, afirmou que o ramal clandestino foi resquício de uma obra feita no passado, mas o magazine não se pronunciou oficialmente. “Essas pessoas não têm compromisso em economizar porque não pesa no bolso”, diz José Ademar de Souza, um dos delegados que atuam junto à companhia de abastecimento.

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BLITZ
Funcionário de empresa hídrica e polícia civil fazem
vistoria após denúncia de desvio ilegal de água

A patrulha da seca, que tem sido muito requisitada nesse período de crise hídrica no Sudeste, costuma atuar em duas frentes. A primeira é composta por agentes da Sabesp que fazem batidas em locais suspeitos na companhia de policiais civis. Antes, os funcionários da empresa iam sozinhos, e enfrentavam resistência para entrar no imóvel. Desde então, um acordo com a Secretaria de Segurança Pública afinou a parceria, e o número de equipes da Sabesp nas ruas pulou de 50 para 70. Além das denúncias, a identificação é feita por meio da análise do consumo. Um alerta acende se um cliente diminui o uso bruscamente ou possui gastos incompatíveis com seu perfil.

A segunda frente é composta pelo setor de análise da companhia e pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Eles buscam capturar fraudadores que fazem os “gatos” para o consumidor comum. Na maioria dos casos, são funcionários ou ex-funcionários da Sabesp ou de contratadas. Hoje, dos 48 criminosos monitorados pelas autoridades, 36 são ex-empregados. “A estratégia é descobrir quem está se beneficiando e pegar os peixes grandes”, afirma Marcelo Fridori, superintendente de auditoria da Sabesp.

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Na cidade de São Paulo, em plena crise hídrica, os números dispararam. Em janeiro e fevereiro de 2015 foram 2,3 mil furtos detectados, contra 1,7 mil no mesmo período do ano anterior. No Rio de Janeiro, 10 mil operações resultaram em cerca de R$ 30 milhões em multas desde 2007. Em Minas Gerais, 1.044 imóveis foram multados por ligações clandestinas no ano passado. Para quem for pego, a pena pode chegar a 8 anos de detenção. “É um crime que você corre risco de flagrante todo dia. E com o flagrante você vai para a cadeia”, diz Souza.

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Foto: Zanone Fraissat /COTIDIANO 


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