O Banco Central apresentou na semana passada uma medida que deve afetar a cotação do dólar nos próximos meses. A partir do dia 31 de março, o programa de leilões diários da moeda americana, chamado de “swap cambial”, deixará de existir. Na prática, significa que o governo não quer mais segurar artificialmente o dólar, permitindo que ele flutue de acordo com os ventos econômicos. Um dia depois do anúncio, o mercado deu seu recado. A moeda disparou 2,3%. Também na semana passada, um relatório do mesmo BC informou as projeções de inflação para 2015. Agora, estima-se que alta de preços neste ano será de 8,12% e não mais de 7,93%. Qualquer que seja o número, ele está distante do teto da meta, de 6,50%. Afinal, o que os indicadores querem dizer? Um fato parece inquestionável: em breve, tudo isso vai pesar no bolso dos brasileiros.

abre.jpg

Uma alta excessiva do dólar provoca danos na economia. De imediato, ela encarece o preço de artigos importados, o que afeta uma boa parte da cadeira produtiva. Muitos bens fabricados no Brasil usam insumos vindos de outros países. Se o valor desses itens subir demais, o preço final do produto aumenta. A escalada da moeda americana também dificulta o acesso a viagens ao exterior – muita gente é obrigada a deixar a Disney para depois. No final, o conjunto dessas forças pressiona a inflação. O desafio do mercado é estimar qual será o ponto de equilíbrio. “Do ponto de vista conjuntural, o cenário de incertezas pode fazer o dólar ultrapassar os R$ 3,50”, diz Clemens Nunes, professor da Fundação Getúlio Vargas.

IEpag63_economia.jpg

Usar artifícios como o swap cambial não funcionou até agora para segurar a disparada do dólar. Em 2015, sua cotação ante o real acelerou mais de 20%, percentual muito acima dos rendimentos de qualquer aplicação financeira. Quer dizer que, sem o controle do governo, há o risco de a moeda subir ainda mais? Essa lógica não é tão simples assim. Em geral, represar preços costuma ter efeitos desastrosos na economia. “O câmbio é um preço como outro qualquer”, diz André Sacconato, diretor de pesquisa da consultoria Brasil Investimentos e Negócios (Brain). “Quando você tenta segurar muito a cotação de uma moeda, pode esperar que haverá um grande salto lá na frente.” Para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a maneira mais eficaz de evitar o descontrole do dólar e da inflação é a aprovação do ajuste fiscal. Por enquanto, isso está longe de acontecer.

Fotos: Trilux/Wenderson Araujo; Ale Silva/FOLHApress