Há duas maneiras de se avaliar um ministro. A primeira leva em conta aspectos biográficos, muitas vezes romanceados, como se a autoridade fosse antes um mito, e não um servidor público. A segunda desconsidera o passado e julga o presente. O que importa são os resultados efetivos da gestão. No caso da ministra Marina Silva, podem ser usadas as duas lentes. Pelo primeiro critério, ela, que tem uma história de vida impecável, será sempre um exemplo. Quase uma santa. Pelo segundo, é forçoso admitir que sua gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente deixou a desejar. Basta dizer que, na maioria das questões em que se envolveu, a ministra esteve quase sempre do lado errado. E muitas vezes o impacto ambiental das suas decisões foi negativo.

Estranho? Contraditório? Mas é a pura verdade. Comecemos pela questão energética. Marina emperrou ao máximo a concessão de licença ambiental para as usinas hidrelétricas do rio Madeira, na Amazônia. Qual foi a conseqüência? Em vez de utilizar a água, uma fonte renovável e limpa de energia, o Brasil continuou acionando as usinas térmicas, bem mais poluentes. Em muitos casos, são movidas até com carvão de madeira desmatada. Marina também foi contra a construção da usina nuclear de Angra 3 – só que, novamente, pelas razões erradas. Em Angra, o problema diz respeito ao custo da obra, licitada ainda no regime militar, e não à fonte energética em si, cujo uso vem crescendo no mundo inteiro.

Julgada como mito, a ministra vira quase uma santa. Mas, como gestora, ela era um dos pontos fracos do governo Lula

Passemos, pois, à questão alimentar. Desde seu primeiro dia em Brasília, Marina se posicionou contra os transgênicos. E qual foi o efeito ambiental? Novamente, negativo. Afinal, a soja roundup ready, principal semente geneticamente modificada, nada mais é que um produto resistente a pragas e que demanda menos agrotóxicos durante o plantio. Portanto, quanto mais disseminada, melhor. Seus inimigos, muitas vezes, são ONGs "verdes" financiadas por multinacionais da área química, que, na certa, atacarão o descaso do Brasil na área ambiental após a queda da ministra.

Prisioneira de seus dogmas, Marina perdeu uma grande oportunidade. Isso porque o Brasil pode ocupar um espaço único na esfera internacional. É o País que reúne condições para oferecer tudo aquilo que o mundo vem buscando: alimentos, energia limpa, como o etanol, e preservação ambiental. Em vez de liderar a agenda do futuro, a ministra continuou aferrada ao passado. E agora, em vez de nomear alguém que agrade ao público externo, Lula deveria pensar em eficiência. Quer uma idéia? Por que não fundir os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente num só, que seria a Pasta do Desenvolvimento Sustentável? Muito mais moderno e também em sintonia com os anseios globais.

 

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