Muito antes de ser presidente, o então operário Luiz Inácio Lula da Silva denunciou a existência de “300 picaretas” no Congresso Nacional. Quando chegou ao poder, organizou a maior coalizão governista que já se viu no País. Uma coalizão, diga-se de passagem, que lhe permitiu governar, mas também trouxe problemas a ele, como no caso do chamado “mensalão”, e a sua sucessora Dilma Rousseff, nos episódios da “faxina ministerial” e, mais recentemente, da Lava Jato.

Agora, foi a vez de Cid Gomes, ex-ministro da Educação, diagnosticar a presença de “400 achacadores” no parlamento – ou seja, a cota de “picaretas” teria aumentado 33,33%. Na quarta-feira, quando muitos esperavam que Cid pudesse se desculpar no Congresso, baixou nele o espírito de Ciro, seu mais do que arretado irmão. Cid apontou o dedo para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e disse que é melhor ser chamado de mal-educado do que de achacador, reiterando sua acusação anterior. Naturalmente, caiu.

Para o governo Dilma, que atravessa um momento de convulsão política, teria sido melhor manter as aparências. Cid pediria desculpas, diria que tropeçou nas palavras inadvertidamente e a vida seguiria em frente. Aliás, nada disso seria necessário se ele próprio tivesse sido demitido de forma sumária quando sua declaração vazou, há pouco mais de uma semana. Assim, seguiríamos a máxima de La Rochefoucauld: a hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude.

Ocorre que, em momentos turbilhonares, como o atual, a verdade tem mais valor do que a hipocrisia. Afinal, o que revela o “sincerídio” de Cid Gomes? Nada menos que o altíssimo custo da chamada governabilidade no Brasil. No momento em que o Brasil se vê, novamente, estarrecido com pagamentos a parlamentares, será que ninguém se pergunta qual é a origem disso tudo? E mais: será que ninguém vê realmente a necessidade de uma reforma política, apenas porque esta não era a bandeira dos protestos do dia 15 de março?

Pois o caso Cid tem tudo a ver com a Lava Jato e todos os outros escândalos recentes do País.
A política, hoje, no Brasil é caríssima e leva ao financiamento privado, que leva à corrupção. A governabilidade, com a miríade de partidos, também é cara e produz corrupção. Só há uma saída: reforma política e com urgência.