Na terça-feira 17, pouco mais de 4 milhões de israelenses deram seus votos para a composição de um novo Parlamento, numa eleição antecipada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu no fim do ano passado. Naquele momento, Netanyahu já dava demonstrações de que intensificaria sua retórica ultraconservadora, com a proposta de transformar Israel num “Estado nação judeu”. Durante a campanha, quando a oposição tocou em temas como o crescimento da desigualdade e o aumento do custo de vida no país, o premiê perdeu o favoritismo e apostou alto na conquista dos votos da direita nacionalista e religiosa. Às vésperas das eleições, invocou uma conspiração para derrubá-lo, disse que ampliaria os assentamentos judeus – considerados ilegais pela comunidade internacional – e não hesitou em abandonar o compromisso de permitir um Estado palestino, que havia assumido em 2009. Depois de reeleito, negou o recuo, mas disse que as circunstâncias impedem uma solução.

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QUARTO MANDATO
Em visita ao Muro das Lamentações em  Jerusalém, Netanyahu (acima) disse estar
“emocionado com  a grande responsabilidade” de sua vitória. Mas, dessa vez,
ele terá que enfrentar uma oposição mais forte. Acima, cidadãos árabes-israelenses
comemoram o desempenho da Lista Árabe Conjunta em Nazaré

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A estratégia funcionou. Ainda que as pesquisas de intenção de voto mostrassem a coalizão de esquerda União Sionista, de Isaac Herzog, na liderança, as urnas confirmaram a vitória do Likud, partido de Netanyahu. Para garantir mais da metade das 120 cadeiras do Knesset (o Parlamento israelense), a coalizão que o primeiro-ministro deve formar nas próximas semanas será provavelmente mais radical que a anterior. Segundo Daniel Levy, diretor do European Council on Foreign Relations, dificilmente o novo governo avançará no processo de paz com os palestinos. “Netanyahu não terá mais ao seu lado uma figura moderada, como foi Tzipi Livni, e isso pode trazer problemas na relação com outros países”, disse à ISTOÉ. Livni, ex-ministra das Relações Exteriores e responsável pelas negociações com a Autoridade Palestina que fracassaram no ano passado, apoiou Herzog. Para Levy, outro ponto que desafia Netanyahu será a necessidade de lidar com uma oposição “mais forte e coerente.” Entre ela, está a Lista Conjunta, sigla formada por três partidos árabes e um socialista, que obteve 14 cadeiras no Parlamento e se tornou a terceira maior força política do país, a despeito dos esforços de Netanyahu. A Lista só se reuniu, numa iniciativa inédita, depois que a lei eleitoral ampliou para 3,25% dos votos a exigência mínima para representação no Knesset.

No dia do pleito, o premiê publicou um vídeo com um apelo. “O governo da direita está ameaçado. Os eleitores árabes estão indo às urnas em massa”, disse. Para o líder da lista árabe, Ayman Odeh, “o racismo tem se tornado um fenômeno crescente na política israelense”. A minoria árabe-israelense, que totaliza 1,7 milhão de cidadãos, representa 20% da população do país, mas sua participação política é historicamente abaixo da média geral. Árabes que vivem na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e na Jerusalém Oriental não podem votar.

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Por mais que Netanyahu tenha recebido um voto de confiança dos israelenses, o que significa que o país vai continuar investindo em assuntos como o terrorismo islâmico e o programa nuclear iraniano, Israel não poderá se esquecer de sua agenda doméstica. O país tem 2,5 milhões de pobres, incluindo uma em cada três crianças, segundo a organização de ajuda humanitária Latet, que contradisse a narrativa oficial de que a taxa de pobreza estava em queda. O relatório apresentado no fim de 2014 também mostrou que 76% das pessoas acreditam que combater a miséria seja uma tarefa do governo, mas só 22% pensam que o governo esteja trabalhando nisso. Para eles, o radicalismo não basta.

Fotos: Ronen Zvulun e Ammar/Reuters