No primeiro semestre de 1994, o então deputado José Dirceu (PT-SP) vislumbrava três alternativas para o futuro. “Acho que vou me eleger governador de São Paulo este ano. Se não conseguir, serei ministro do Lula. Mas, se o Lula também não ganhar a eleição, vou trabalhar com advocacia para ganhar um milhão de dólares”, afirmou o deputado em conversa com o autor desta reportagem. Dirceu não foi eleito governador, mas se tornou ministro de Lula em 2003, ao assumir a Casa Civil. Quanto às finanças, ele foi muito além do que poderia imaginar. Segundo um relatório da Receita Federal, entre 2006 e 2013 recebeu R$ 29,3 milhões por trabalhos de consultoria. A dinheirama parece ter uma origem pouco nobre. Dirceu está sendo investigado por apropriação de recursos ilícitos, provenientes de empreiteiras contratadas pela Petrobras. Do total faturado pela JD Assessoria e Consultoria, empresa do petista, mais de R$ 6 milhões foram pagos por companhias acusadas de formação de cartel para vencer licitações fraudadas na estatal.

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Os R$ 29 milhões recebidos por José Dirceu em 8 anos correspondem a um faturamento médio anual de R$ 3,6 milhões. É bastante dinheiro para uma consultoria desconhecida e sem número definido de funcionários. Para efeito de comparação, o montante corresponde a algo como 10% do faturamento de uma empresa como a LCA Consultores, umas líderes do setor de no Brasil e que conta com mais de uma centena de colaboradores. Dirceu vive desde novembro recolhido em prisão domiciliar, em Brasília, depois de passar quase um ano na cadeia em decorrência de condenação no processo do mensalão. O ex-ministro nega todas as acusações. Ele diz que sua empresa não tem qualquer vínculo com os contratos das empreiteiras com a Petrobras. As consultorias foram prestadas, afirma, a cerca de 60 clientes de 20 setores da economia. Na terça-feira 17, a defesa de Dirceu entrou com um mandato de segurança contra a quebra de sigilo de seus dados bancários e fiscais. Ao se enrolar com contratos milionários de consultoria, o ex-homem-forte do governo, uma espécie de eminência parda que transita na órbita do PT, reprisa um episódio vivido por seu correligionário Antonio Palocci. Em 2011, Palocci perdeu o cargo de ministro da Casa Civil depois que se descobriu que ele recebeu cerca de R$ 20 milhões no ano anterior por esse tipo de trabalho.