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O empresário Rogério Chequer, 46 anos, tomou os mais potentes anti-inflamatórios para ir à manifestação contra a presidente Dilma Rousseff neste domingo 15 de março na Avenida Paulista. “Estarei no protesto nem que seja de cadeira de rodas. Tenho tido dores de coluna impressionantes faz três semanas, mas vou ficar bom para ir à manifestação”, diz ele. Sócio da Soap, que define como uma empresa de soluções de comunicação em momentos decisivos, ele conta que nunca havia participado nem de movimentos estudantis. Em junho de 2013, seu engajamento nas manifestações pelo país foi tímido. Em setembro de 2014, contudo, ele criou o movimento Vem Pra Rua. Chequer contou qual foi a sua motivação e que mudanças o grupo deseja:

ISTOÉ – O que você espera da manifestação deste domingo (15 de março) e depois dela?
Chequer – Espero que as pessoas percebam que não estão sozinhas nem loucas por considerarem o governo atual uma destruição a céu aberto do Brasil. Uma destruição não apenas da economia e do dinheiro dos contribuintes, mas de valores. Quando as pessoas tomarem consciência do poder que elas têm unidas, vão começar a exigir mudança constantemente. Os movimentos de rua vieram para ficar. 
 
ISTOÉ – Como teve a ideia de criar o Vem Pra Rua?
Chequer – Acredito que este é maior nível de indignação que a gente tem no Brasil desde a minha geração. Eu tenho 46 anos. Sou de 1968.  O brasileiro, passivo que é, acomodado que é, utiliza essa energia de indignação como? Ele simplesmente pega as piores notícias e começa a compartilhar, seja em conversas em refeições, seja por facebook ou com o circulo de amigos dele. A gente percebeu que essa indignação era muito mal canalizada: só digital e isolada dentro das redes sociais. Fica sitiada, constrita, limitada a um círculo de pessoas que já concordam entre si. Dos meus amigos eram muito poucos os que defendiam o governo no ano passado. Não adianta nada eu montar uma tese que está tudo errado para pessoas que já concordam comigo. Você acaba pegando notícias ruins e fica esfregando na cara de quem já concorda com aquilo. Vira um exercício de flagelamento coletivo. Quando a gente vê o que está acontecendo e pensa: existe alguma forma de canalizar essa energia na direção da mudança? Una-se a isso o fato que a gente consegue se conectar muito mais rápido hoje e atingir pessoas muito rapidamente. Se a gente vai para a rua, o que acontece com os acomodados ou os indecisos? Isso era um pensamento sobre a eleição. Fui tentando fazer. Se canalizamos essa indignação toda unindo pessoas e indo para a rua, você vai conseguir ter uma possibilidade de construção de mudança muito maior do que ficar reclamando para os seus amigos na internet. Essa é a tese. Nunca votei no PT.
 
ISTOÉ -Você já tinha uma participação em movimentos sociais?
Rogério Chequer – Zero. Nada de política. Sou formado em engenharia de produção pela Poli, na Universidade de São Paulo. Nunca me engajei, nunca tive uma ONG. Ajudo do meu jeito, mas nunca organizei nada. Essa ideia veio na minha cabeça em janeiro de 2014 e tentei decolar isso com alguns amigos mas foi só voo de galinha. Conheci esse meu amigo em agosto de 2014. A gente é irmão hoje, mas parece que se conhece há anos. Sozinho eu não tinha conseguido decolar esse negócio. Ele estava querendo ir embora do país. Ele é engenheiro, mas é executivo de um grande conglomerado, por isso não pode aparecer. E eu levei para ele a ideia: Indignação no ultimo volume. Povo inconformado. Conectar as pessoas está muito rápido. O que acontece quando pessoas conectadas vão para a rua? Não precisa ir para o Egito, para a Turquia, para a Europa. Na precisa ir tão longe. Basta ver o que aconteceu aqui em junho de 2013. Se a gente canaliza essa indignação para as ruas contagiamos pessoas que não se engajavam. Porque isso é contagiante. Em junho de 2013, eu fui para as ruas muito de leve. Ainda não era uma ideia criar o movimento Vem pra Rua. Janeiro de 2014 eu julgava que as pessoas estavam num raio de indignação que nao ia ter segundo turno nas eleições presidenciais. Tinha alguma coisa muito errada aí. Nao fecha essa historia. A gente tentou engajar jovens, o que é muito mais difícil hoje do que pessoas mais velhas. Os jovens estavam com uma enorme resistência a se engajar efetivamente. Por dois motivos. Os jovens não conheceram  o que é ditadura, o que é o regime militar, o que é hiperinflação, o que é uma economia totalmente descontrolada. A gente, nessa idade, tem isso mais próximo. Nas Diretas Já em 1984, eu tinha 16 anos. 
 
ISTOÉ – E de onde surgiu esse furor político repentino?
Chequer – Inconformismo. E um desejo.
 
ISTOÉ – Mas qual era o objetivo do VPR antes das eleições?
Chequer – O objetivo era que a Dilma perdesse as eleições. Era um não a Dilma. No primeiro turno, a gente não defendia o Aécio Neves. Vote em quem você quiser, menos em branco ou Dilma. Somos suprapartidários.
No segundo turno, contudo, apoiamos o Aécio. 
 
ISTOÉ – O que particularmente o move nessa indignação?
Chequer – Eu assisti a um governo corrupto. Trabalhei 18 anos no mercado financeiro. Conheço um pouco de economia. Assisti um país se deteriorando economicamente, se deteriorando em termos de valores, se deteriorando socialmente, crescendo apenas à base de subsídios que não tem valor de longo prazo. E ver o povo não perceber que isso estava acontecendo, me preocupou enormemente. Isso que está acontecendo agora, se você for perguntar para economistas, estava óbvio que ia acontecer. Era só ver o governo represando preço de gasolina, segurando os preços administrados, mentindo durante a campanha com coisas que eram impossíveis de ser feitas, interferindo em outros poderes… Nada tem nada a ver com mercados externos. Os mercados externos estão se recuperando. Eles estão tentando arrumar desculpa. A economia não estava tapando os movimentos de rua,  a economia estava parada por causa do que o Mantega fez nos últimos 4 anos e o que o Lula fez no fim do mandato. Quem entende um pouco disso via o tamanho da mentira. 
 
ISTOÉ – Em quem você votou para presidente?
Chequer – Votei no Aécio, mas não sou um defensor do PSDB, muito pelo contrário. Acho que eles já perderam enormes oportunidades de controlar isso, principalmente em 2005. Como maior partido de oposição do Brasil, eles deveriam estar muito mais atuantes. Mas tinha que escolher a melhor alternativa contra a Dilma. Acho que a oposição ainda é fraca. Essa oposição vai começar a mudar completamente. O que vai dar coragem para essa oposição a bater de frente no governo é esta manifestação do dia 15 e o que vem depois dele. Essa virada pode ser histórica. 
 
ISTOÉ – As ruas estão ganhando força de oposição. Como vê a aposição no congresso?
Chequer – Hoje você tem uma minoria em Brasília aprovando o que quer porque não existe força antagônica. Se eles aprovam uma medida totalmente contrária, prejudicial a maior parte da população não acontece nada. A representatividade está quebrada no Brasil, você vota num político e no dia seguinte que ele é eleito, ele passa a defender interesses próprios ou do partido. Não precisa prestar contas para o seu eleitorado. É isso que a ausência de voto distrital faz. Somos totalmente a favor do voto distrital, uma porque ele vai melhorar esse sistema de representatividade, dois porque ele vai diminuir enormemente os custos da campanha. E ao diminuir os custos e a troca de dinheiro da campanha, ele diminui a troca de favores que é feita pré e pós eleição. 
 
ISTOÉ – Mas vocês não são a favor do impeachment, e por que estão saindo numa manifestação pró-impeachment?
Chequer –Não somos a favor no momento. O impeachment é um processo político e jurídico. O Fiat Elba do Collor é maior do que o que se conseguiu provar até agora da Dilma. Enquanto você não tiver um argumento jurídico que seja sustentável não adianta pedir impeachment. Porque pode ser pior. Você pode gastar um cartucho violento justamente político e perder. E ai você não consegue mais usar esse recurso no momento correto. O povo sabe que que pra pedir impeachment você precisa de dois tercos de aprovação no congresso, você precisa de uma tese jurídica para o supremo tribunal federal aceite?
 
ISTOÉ – O vem pra rua esta indo para a Avenida Paulista pedir o que?
Chequer – Esse grito de impeachment é um grito de desespero. É um grito de basta. Chega. De não aguento mais. Quero mudança. Esse grito é nosso. É por isso que a gente esta saindo para as ruas neste dia 15. A hora que tiver uma argumentação jurídica, passível de utilização em impeachment, nos seremos os primeiros a defendê-lo. Nós não somos pró impeachment agora. Nós somos a favor do impeachment na hora certa. Antes disso é perda de energia. Antes queremos a apuração irrestrita e sem a influência de agentes políticos e corporativos dos escândalos de corrupção. A gente fez um panelaço na casa do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Fizemos uma vigília pelo procurador Rodrigo Janot, na procuradoria geral da republica, em Brasília, segunda-feira passada, para que ele encaminhasse de forma adequada os nomes que ele recebia da justiça federal.
 
ISTOÉ – Como nasceu o panelaço de domingo 8, durante o pronunciamento da presidente?
Chequer – A gente convocou pelas redes sociais também. Vários movimentos chamaram. A gente já tinha essa ideia há um tempão. Quando começamos com os panelaços, combinamos: o dia que tiver um pronunciamento da Dilma, vamos fazer panelaço nela. E começou a espalhar. A gente nem sabe como começou. Quando começamos a falar já tinha um monte de gente falando. Não sei quem começou, mas a gente postou também. Mas acho que 80% das pessoas que bateram panelas no dia 8 não viram convocação nenhuma. Elas começaram a ver quando já estava todo mundo gritando, batendo panela, tocando corneta, buzinando na rua. Quando as pessoas viram o que estava acontecendo, a maior parte das pessoas ficaram assustadas no começo. Não sabiam o que era. Quando elas perceberam que era uma coisa generalizada e endêmica, e era por causa da dilma, foi todo mundo para a janela. 
 
ISTOÉ – Mas como vocês mediram isso?
Chequer – O que eu falo não é fundamentado, mas o ruído e a adesão foi crescendo ao longo do discurso. Foi endêmica e contagiante. Tudo o que esta acontecendo com o povo hoje é contagiante. Porque as pessoas estão vendo que o que elas estão sofrendo, e que elas não estão sozinhas. Quando você percebe que existe eco para este sentimento, o que pode se fazer hoje é ir para a rua protestar. Isso está ao alcance de qualquer um, já que a gente não consegue mobilizar os nossos políticos para fazê-lo no Congresso. 
 
ISTOÉ – E como vocês se organizaram para este domingo 15?
Chequer – Camisetas, faixas, carros de som. Vamos gastar R$10 mil para um carro de som bem maior. A maior parte das bandeiras e cartazes são as pessoas que levam. A gente produziu 1400 camisetas Vem pra Rua a R$25. A gente tem um grupo enorme mobilizado. As pessoas vem de verde e amarelo. A manifestação além de tudo é extremamente patriótica. É uma festa linda, maravilhosa, com milhares de bandeiras do Brasil.
 
ISTOÉ – Quantas pessoas fazem parte?
Chequer – Centenas. É tudo informal por enquanto. Tem centenas de pessoas ajudando. Dezenas de grupos na web. E ai cada grupo acaba organizando um aspecto da mobilização. 
 
ISTOÉ – E como está sendo a intercessão com os outros movimentos?
Chequer – A gente conversa com eles. MBL, Revoltados On Line, Quero me defender. Já fizemos várias ações conjuntas com  objetivo de engrossar o coro. Antes das eleições estava mais fácil levar gente para as ruas. Antes das eleições a gente estava sozinho. No dia 22  de outubro levamos sozinhos 20 mil pessoas. Naquele dia, fizemos o movimento em 266 cidades no Brasil, 26 delas cidades grandes. 
 
ISTOÉ – Como vocês organizaram isso?
Chequer  – Para esse dia especificamente e só para esse dia, a gente fez uma ação conjunta com a campanha do PSDB. Eles tinham acesso a todos esses lugares. A gente tinha a expertise nas redes sociais. Foi no segundo turno. Na noite da apuração dos votos que deram vitória a Dilma, a gente gravou um vídeo avisando que iríamos continuar nessa luta, que era maior ainda, que era uma luta para não deixar esse governo estragar o pais como já tinha estragado nos últimos anos. 
 
ISTOÉ – Como reage às críticas de que as manifestações são da elite branca, que são os coxinhas se manifestando, que o panelaço veio da varanda gourmet?
Chequer – Vou fazer o que? Alguém tem que fazer alguma coisa. Então é uma elite de trabalhadores, diga-se de passagem. As pessoas que estão nesse movimento são assalariadas, profissionais liberais, ou elas estão desempregadas. Está cheio de desempregado ajudando a gente. É uma elite que é trabalhadora. Ela não é uma classe política que está se beneficiando dos milhões da corrupção. Ela não é ninguém que foi aposentado por invalidez cedo. São pessoas que têm que matar um leão por dia. Agora se é elite, se não é elite… a elite tem menos direito de protestar? O protesto da elite vale menos? O fato é que a elite é menos afetada pelas consequências desse governo nefasto do que as outras classes. A elite consegue se proteger da inflação. As classes mais baixas não conseguem. Inflação projetada já está em 7,5%.  E ai quem perde com isso? Não é a elite. É muita mentira. Muita cara de pau. O que o Vem pra rua quer é despertar essa consciência nas pessoas. Elas não precisam ser desrespeitadas. O povo brasileiro foi se acostumando com absurdos que não devem ser mais aceitos. 
 
ISTOÉ – Você está sentindo na pele a crise econômica? Como vai a sua empresa?
Chequer – A gente sente o desaquecimento da economia. Qualquer pessoa que tenha negócio hoje sente o desaquecimento. O mercado de trabalho esta assustadíssimo por causa da redução de vagas. 
 
ISTOÉ – Você teve que demitir funcionários?
Chequer – Não tivemos que tomar nenhuma atitude radical ainda.
 
ISTOÉ – Sua empresa deixou de faturar mais este ano do que o ano passado? Como está a sua vida?
Chequer – Está ok. Mas numa economia cadente todos passam a faturar menos. As oportunidades de crescimento são muito menores. A contratação é muito menor. A cautela que você tem que ter é muito maior. Você investe muito menos. Ninguém é louco de sair investindo num ambiente desses de incerteza. Nosso negócio, que é de solução de comunicação em momentos decisivos, é diferente nesse caso.Quando as pessoas precisam vender mais, elas precisam apresentar melhor. Então elas continuam procurando a gente. E e uma questão de conversão. As pessoas precisam converter mais. Ser mais eficientes na venda. Na conversão de vendas. E ai a gente acaba atuando. Então nossa empresa.. qualquer momento decisivo de apresentação. Minha empresa pode ser definida como Momentos decisivos corporativos. 
 
ISTOÉ – Acredita que hoje os brasileiros incorporaram a prática das mobilizações?
Chequer – O chip está virando. As pessoas quando vão pra rua despertam a consciência maior dos problemas que estão acontecendo. Ficam menos abafados. As mentiras do governo ficam menos guardadas. Menos abafadas. Essa movimentação de rua começa a chamar a atenção de todo mundo. Do próprio povo e dos políticos. Daqui para frente vão ter que escutar mais a população. Alguém estava preocupado em passar a lei das diretrizes orçamentárias em dezembro? O absurdo que era escrever, mudar uma regra no final do jogo? Para isentar a presidente de responsabilidade fiscal? Imagina se a minha empresa define que naquele ano ela só pode gastar R$ 100 mil e ela gasta R$ 1 milhão. Será que o presidente da empresa pode chegar para o conselho ou para o dono da empresa e mudar a regra? “Sim, nesta ano que passou , eu podia gastar um milhão.” Foi isso que o governo federal fez. No final do período, ao apagar das luzes, em dezembro, eles flexibilizaram as metas orçamentárias. E mudaram a lei. A lei não se aplicou para eles. Comprando abertamente políticos para votarem numa lei que ao ser mudada te tira da responsabilidade de um crime que você teoricamente cometeu ao final do exercício. Onde nos estamos? E ai o povo faz o que sobre isso? No Brasil? Historicamente? Nada? Essa é a motivação  do vem pra rua. Não pode mais não fazer nada. Diante dessas coisas. O povo nao pode mais se abster da sua responsabilidade civil de protestar. Contra absurdos que prejudicam eles mesmos. Onde os únicos beneficiados são políticos e governantes.
 
ISTOÉ – E como esta vendo o cenário após o dia 15?
Chequer – Vamos ver o tamanho do dia 15 no brasil. Se for grande, acho que os políticos vão começar a pensar diferente. 
 
ISTOÉ – Como movimento suprapartidário, como o Vem Pra Rua se posicionará em relação gestão do governo Paulista na crise da agua?
Chequer – Foi outra grande mentira. Não quero nem entrar nessa porque não quero livrar a do governo estadual porque a do governo federal é mais grave. Nao é meu objetivo. Mas no caso do governo estadual, foi uma mentira junto com a irresponsabilidade de dizer que não ia ser necessário racionamento, que a situação estava sob controle. E que agora as chuvas estão ajudando, né? Mas isso é momentâneo. Eu acho que foi um absurdo em termos do que foi falado antes das eleições.  Temos problemas em todas as esferas. Acho que foi uma irresponsabilidade de governo estadual. Alckmin é o chefe do governo. E saiu da boca dele que nós não precisávamos nos preocupar porque não ia ter racionamento. E aí a gente descobre no mesmo mês que a situação é critica. Foi total irresponsabilidade dele. Você não vai nos ver defendendo o Alkmin ou PSDB. Acho que o PSDB devia estar exercendo um papel de oposição muito mais contundente do que está.
 
ISTOÉ – Vocês mantiveram uma relação com o PSDB, após a ação conjunta no segundo turno?
Chequer – Ha pessoas que acreditam que a gente tem uma ligação com o PSDB e que a gente ai dizendo que nós recebemos dinheiro do PSDB. Nós não temos relação. No primeiro turno falamos: votem em quem quiser, menos branco ou Dilma. A gente não fez campanha para o Aécio no primeiro turno. No segundo turno, falamos ok, somos supra partidários. Mas, e aí, o que a gente faz? A gente não queria apoiar ninguém. Mas qual seria a nossa função? Percebemos rapidinho que não tinha alternativa. Tinha que apoiar para o segundo turno o Aécio. Passando o segundo turno, sairíamos fora. Muita gente que não acredita. Nós não podemos nos aliar a partido nenhum.  Se a gente se aliar, a gente deixa de poder criticar outros partidos. 
 
ISTOÉ – Como enxerga o Brasil passando por um novo processo de impeachment?
Chequer – Não sei… se for comprovado que houve uso de dinheiro de campanha sujo com o esquema do petróleo, cai a chapa inteira, cai Dilma e o Michel Temer. E ai convoca-se novas eleições. 
 
ISTOÉ – Vocês funcionam com doações?
Chequer – Até agora todos os membros do grupo tem colocado dinheiro do bolso. São  centenas de pessoas. Mas é um sistema colaborativo total.
 
ISTOÉ – Houve alguma doação de grandes empresários?
Chequer – Não. Se eu te disser o dinheiro que a gente gastou ate agora, você não vai acreditar. Uma saída de rua, as que nos fizemos no ano passado, custava R$ 4.500, R$ 6 mil, R$ 7 mil reais. A ultima saída foi mais cara e a gente gastou 8.504 reais. A de seis de dezembro. Não precisamos de uma doação vultosa. Vai somando. Um carro de som custa 2.200 reais. Você gasta 1000 reais de faixa. Esse foi o mais caro porque a gente pegou um carro de 4.000. A gente gastou mais em divulgação. Divulgação pelo Facebook. A gente recolheu dinheiro para aquela manifestação. Ai faz uma ação, um panelaço, e você não gasta nada praticamente e mobiliza. Nesta manifestação do dia 15, gastamos R$10 mil.
 
ISTOÉ – Há empresários mais conhecidos que apoiam o movimento?
Chequer – Tem. Nenhum deles quer se identificar. 
 
ISTOÉ – Alguém notável patrocina o Vem pra Rua?
Chequer – Não tem nenhum. Isso que você imaginou de ter um enorme nome dando muito dinheiro.. a gente começou a angariar dinheiro agora.  A gente começou a fazer isso faz duas semanas. Antes disso era o nosso bolso. Dos integrantes. Um dava quinhentos, outro dava R$1000, outro dava R$ 2000. Outro dava R$100. As primeiras doações externas faz três semanas. 
 
ISTOÉ – Mas você ficou inconformado com algum episódio específico?
Chequer – Não foi uma coisa concreta. Foi quando percebi a realidade do gap que havia entre o que estava acontecendo no Brasil e como o povo brasileiro estava vendo e votando na manutenção do governo.  Então achei um jeito de fazer, esse é o ponto. As pessoas estão inconformadas mas não sabem o que fazer. Elas se sentem impotentes. As pessoas tem essa energia de indignação, e não sabem como aplicá-la. O que a gente esta fazendo é canalizar energia de indignação de um jeito efetivo para a mudança. Quando você percebe que está ao seu alcance começar um processo de mudança, você se engaja. 
 
ISTOÉ – Por que ninguém aparecer no movimento? Por que seu parceiro não aparece?
Chequer – Ele tem um emprego.  Ele pode ser mandado embora amanhã. Ele é executivo, assalariado.
 
ISTOÉ – Existe relação entre o Vem Pra Rua e o empresário Jorge Paulo Lemann, da Ambev, como foi noticiado?
Chequer – Não. Houve um erro de julgamento quando o primeiro site foi hospedado no domínio da Fundação Estudar. Uma pessoa que estava nos ajudando trabalhava lá. Jorge Paulo Lemann nem sabia. Mas isso já foi corrigido. Nós perdemos toda nossa base, tiramos o site, mas o pessoal lá não deletou o site da fundação. Foi isso apenas. Águas passadas.
 
ISTOÉ – Como reage à acusação de liderar um movimento golpista?
Chequer – Preciso entender qual é o golpe nosso. Se a gente não faz nada ilegal. É uma acusação vazia. Golpista é quem promete e não cumpre. Ou quem usa dinheiro do povo para entrar no poder.
 
ISTOÉ – Como imagina o efeito da manifestação deste domingo?
Chequer – Os políticos podem começar a perceber que a vida desse governo é curta. Este dia 15 é uma oportunidade histórica do povo demonstrar que o seu engajamento pode mudar os rumos da política no Brasil. A qualquer momento.