Panelaços nos edifícios, buzinaços nos carros, vaias em evento público, protestos nas ruas. A mandatária já não consegue colocar o pé fora do Planalto ou proferir um discurso em cadeia nacional sem riscos de enfrentar a insatisfação geral e ouvir apupos. Isso com pouco mais de dois meses de governo. Dilma está refém do próprio cargo por conta de erros e equívocos que comete a toda hora, sem trégua. A mobilização contra ela – para além dos escândalos, do desempenho ralo na economia e na política – encontra motivos claros na própria personalidade de Dilma. A sua inabilidade gerencial, soberba e falta de sensibilidade para o diálogo com os vários segmentos da sociedade vêm minando todo e qualquer capital de apoio que ainda lhe resta para continuar governando. Medições recentes de pesquisas de opinião mostram que a popularidade da presidente recua aceleradamente e já chega à casa de um dígito. Isso após ter caído pela metade, de 42% em dezembro para 23% em fevereiro último. Sua fala à Nação no domingo passado, por ocasião do Dia da Mulher, significou nada menos que um rotundo fracasso. A repercussão foi a pior possível. E deu combustível às críticas, fundamentalmente pelo arsenal de fabulações e lorotas que apresentou para explicar a situação do País. Repetindo o discurso de campanha, Dilma culpou a crise internacional pelas dificuldades. Distorceu a realidade que é a de uma recuperação gradual dos EUA, Europa e Ásia, enquanto o Brasil amarga a estagnação que o coloca na rabeira do crescimento econômico global. Na sua versão dos fatos, o descontrole dos gastos públicos, a disparada da inflação, o tarifaço de energia e combustíveis (e mesmo o propinoduto de bilhões que sangrou a Petrobras) foram calculadamente omitidos para dourar o quadro que “não é tão ruim assim”, nas suas palavras. Ela pediu paciência aos cidadãos pelos sacrifícios, mas foi incapaz de acenar com gestos de austeridade como o da eliminação de parte do seu fabuloso séquito de 39 ministérios com os respectivos apaniguados e custos vultosos. Ao ofender o senso comum, elevou o grau de irritação dos brasileiros. Deixou de fazer o essencial: assumir as falhas e pedir desculpas como, aliás, aconselhou o próprio tutor Lula. Dilma do segundo mandato fez o que disse que não faria (do aumento expressivo da energia à remarcação dos juros), descumpriu o que prometeu em campanha (não mexer nos direitos do trabalhador) e ainda tentou abrandar o tamanho das dificuldades, taxando de passageiras medidas que devem se prorrogar por um bom tempo. Apostou na desinformação e na falta de memória do eleitor. Errou de novo. A persistência em negar o que o brasileiro sente no bolso e percebe no dia a dia só não é maior que o velho e surrado discurso do “golpismo” para desacreditar manifestações, de mais a mais, legítimas. Seus assessores próximos não cansam de interpretar como manobra das “elites” em prol de um “terceiro turno” qualquer reação contrária à presidente. A retórica petista de um “movimento restrito” e “orquestrado” pela oposição está completamente fora de contexto. O mesmo PT que é capaz de convocar servidores públicos e militantes, pagando transporte e comida, para engordar uma claque a presidente em qualquer reduto onde ela apareça, deveria perceber o tamanho da onda contrária a seus abusos e aceitar o jogo democrático da liberdade de expressão dos que não concordam com o rumo tomado.  


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