Björk/ Museum of Modern Art New York, NY/ até 7/7

“Era uma vez uma menina que cantava e dançava sobre a plataforma de um caminhão… a menina… vivia sozinha, num campo de lava… em uma floresta… perto do oceano… em uma pequena cabana feita de materiais terrosos”. Assim começa a narrativa biográfica ficcional do áudio guia de “Songlines”, um dos segmentos da retrospectiva de Björk no Museum of Modern Art New York. Mas a história real da garota que nasceu perto de vulcões e que depois iria viver em cidades de ruas tão reluzentes quanto pedras de lavas não é diversa da menina que nasceu em 1965 na capital da Islândia, terra das luzes e das sombras extremas, onde no inverno os dias duram quatro horas e no verão as noites não existem. A exposição vem mostrar que vida e obra se misturam tanto quanto ficção e realidade nas duas décadas de trabalhos e nos sete álbuns compostos por Björk.

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DEBUTANTE
Björk em foto de Jean-Baptiste Mondino para álbum de estréia "Debut"

Um de seus vídeos mais sensacionais é precisamente aquele em que ela encarna a menina do campo de lava e dança sobre a plataforma de um caminhão em circulação pelas ruas de Manhattan. “Big Time Sensuality” (1993), do álbum solo “Debut”, que esteve no topo das paradas dos EUA, está hoje em projeção monumental na parede interna do museu.

Com curadoria de Klaus Biesenbach, a exposição nasceu do desejo de que a música de Björk propiciasse uma experiência tão autêntica quanto uma pintura. Para isso, a mostra foi composta de três partes: a linha da vida (Songlines), que descortina a trajetória de seus sete álbuns; uma videoinstalação sonora imersiva comissionada pelo museu (“Black Lake”) e uma seleção de seu incrível repertório de vídeos, feito em colaboração com cineastas do calibre de Michel Gondry e Spike Jonze.

Na prática, a linha da vida em “Songlines” não chega perto da proposta inicial de uma experiência estética total e não alcança a potência do trabalho audiovisual de Björk. Projetados em um cinema de alta definição, seu repertório fílmico alcança sua real dimensão apoteótica, provando estar a anos luz da MTV ou do Youtube e ter seu lugar em um museu do porte do MoMA.

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LANÇAMENTO
A artista na capa do novo álbum "Vulnicura"

Para os que ainda estranham, vale ressaltar que não se trata absolutamente de um desvio de percurso o fato de o MoMA dedicar uma retrospectiva a uma multiartista como Björk. Um dos mais arrojados projetos da museografia internacional contemporânea, o MoMa foi o primeiro museu a assimilar a fotografia como arte, no século 20, e o game como arte, no século 21. “Biophilia” foi o primeiro aplicativo a entrar para a coleção do museu e está atualmente em exposição em sua galeria de arquitetura e design. Outro ponto alto da exposição são precisamente os instrumentos que Björk usou para compor o projeto “Biophilia”, composto de álbum e app que integram música, design, ciência, educação e tecnologia.

A exposição desvenda os encantos da fada islandesa que abalou o senso comum vestindo-se como um cisne em plena cerimônia de entrega do Oscar de 2001, e ganhou o prêmio de melhor atriz em Cannes pelo visceral desempenho em “Dançando no Escuro”, de Lars von Trier. E mostra que além de cantora e compositora extremamente sofisticada, Björk é uma fascinante ficcionista e inventora. 

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MONUMENTAL
Projeção em grande escala do videoclipe -"Big Time Sensuality" (1993)

Fotos: Jean Baptiste Mondino/ Inez and Vinoodh/ Cortesia Wellhart Ltd & One Little Indian e MoMA