Na última semana, o governo Dilma recebeu uma boa e uma má notícia. A boa foi a lista do procurador-geral Rodrigo Janot que, ao pedir inquéritos contra os presidentes das duas casas legislativas, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), fez com que a crise da Lava Jato atravessasse a rua e mudasse de endereço, migrando do Palácio do Planalto para o Congresso Nacional. A má foi a descoberta de como ambos podem reagir, agora que se sentem atingidos por uma suposta manobra que atribuem ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo – na visão de Cunha e Calheiros, ele teria influído na ‘lista de Janot’.

Na Câmara, Cunha apertou os parafusos da CPI da Petrobras. Criou quatro novas subrelatorias, minando o poder do relator Luiz Sergio (PT-RJ). Além disso, determinou a contratação da Kroll, maior firma de investigação privada do mundo, que atuou na CPI do caso PC Farias e terá a missão de rastrear contas bancárias de ex-funcionários da Petrobras, como Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco e Renato Duque. Cunha promete, agora, uma CPI contundente, que não deixará pedra sobre pedra.

No Senado, a reação de Calheiros, até recentemente o mais leal aliado do Palácio do Planalto, foi mais surpreendente. Ao devolver a medida provisória sobre desonerações tributárias, Renan instalou a dúvida na mente de investidores do Brasil e de fora. A questão, agora, é: em meio a toda essa agitação política, o governo conseguirá ou não implementar o ajuste fiscal proposto pelo ministro Joaquim Levy? Caso não consiga, quais serão as consequências econômicas? Um dia depois da devolução da MP, o dólar foi a R$ 3 e as projeções de inflação chegaram a 8%. Além disso, a possibilidade de rebaixamento de classificação de risco do País foi o tema do dia nas mesas de operação do mercado financeiro.

No governo, garante-se que a meta de superávit primário de 2015, de 1,2% do PIB, será cumprida com relativa folga. No Congresso, o próprio Renan assegura que o ajuste fiscal será aprovado, agora que foi submetido da maneira correta – por projeto de lei, e não mais através de medida provisória. Ou seja: a turbulência seria apenas passageira. Além disso, investidores não estariam enxergando o aspecto mais importante, que é o firme compromisso do governo Dilma com as medidas propostas por Levy.

Até recentemente, tinha-se a impressão de que a crise política seria mais grave do que a da economia, que poderia ser ajustada com pequenos ajustes aqui e acolá. Agora, o que se percebe é que o desarranjo político tem um poder de contágio sobre as expectativas dos agentes econômicos maior do que se imaginava. Um Congresso sob suspeita não faz um impeachment, mas pode atrapalhar, e muito, o ajuste fiscal. 

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