Em São Paulo, a gula nunca foi vista como pecado. Não é por acaso que a cidade tem mais de 45 mil bares e restaurantes listados no sindicato da categoria e se orgulha do título de capital gastronômica da América Latina. Alguns exagerados acham até que é a do mundo. Para testar a soberania, o publicitário paulistano Rubens Filho, 34 anos, dedicou-se por dois anos a uma tarefa que mataria de inveja qualquer gourmet. Saiu pela cidade provando o que ela oferece de melhor. O resultado da comilança está no sugestivo Guia Hum, 144 págs, DBA Melhoramentos.

A proposta de Rubens Filho era ousada. Ele queria eleger o melhor de cada iguaria de Sampa. Ou seja, a melhor coxinha, o melhor cachorro quente, o melhor bacalhau, o melhor bolo de chocolate, a melhor feijoada e por aí vai… Ao todo foram mais de 200 pratos pesquisados. Alguns bem exóticos, como o babaganuj, polpa de berinjela grelhada na brasa, especialidade árabe, ou o brandade, pasta de bacalhau servida com creme de leite e batata. Isso sem contar os famosos testículos de boi, para estômagos mais corajosos.

Ao final da pesquisa, o publicitário engordou 12 quilos. Calcula ter percorrido cerca de quatro mil quilômetros e deixado mais de R$ 30 mil nos estabelecimentos visitados. O publicitário fazia questão de não se identificar e pagar todas as contas. “Foi a forma que encontrei para dar credibilidade à publicação”, diz. Nas andanças pela babel gastronômica, ele garimpou preciosidades como o churros do Toninho, na Mooca, zona leste da cidade. “A casa que faz o melhor churro funciona das 3h30 às 11h30. E só abre aos sábados, domingos e feriados. Deve ser o comércio com o funcionamento mais esdrúxulo do mundo” afirma. O guia informa endereço, horários, formas de pagamento e cotação de preço das casas. A regra só não vale para o melhor mousse de chocolate, à pág. 42. Nele não há nenhuma dessas informações. Ele apenas grafa: “É o da minha mãe. Afinal, eu tenho esse direito”, com uma fidelidade de deixar qualquer mãe com água na boca.