Os estudantes de medicina da Colômbia passaram, nesta sexta-feira 31, por uma experiência a que os universitários de 20 cursos superiores diferentes no Brasil já estão acostumados. Fizeram, pela primeira vez, o Provão, exame criado em 1996 para avaliar, através do desempenho dos alunos, a qualidade do ensino prestado pelas universidades e faculdades do Brasil. E não se trata de simples coincidência. Os colombianos pediram ajuda ao Brasil para fazer esse tipo de exame no país. Mas não é só a Colômbia que está interessada na tecnologia educacional verde-amarela. Cuba, Argentina e China já enviaram especialistas ao Brasil para conhecer o sistema e buscar uma forma de adaptá-lo. Segundo Tancredo Maia Filho, diretor do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que coordena o Provão, os resultados obtidos pelo Brasil impressionam os estrangeiros. No exame do final de julho, nada menos que 1,3 milhão de universitários fizeram a prova em todo o Brasil. “O Provão é hoje uma das maneiras mais eficientes de aferir qualidade e classificar os cursos superiores. É exatamente essa confiabilidade que os especialistas desses países vêm buscar”, afirma Tancredo.

Estréia – Tancredo participou, na semana passada, de um seminário sobre educação patrocinado pelo Instituto Colombiano de Fomento do Ensino Superior, em que o Provão brasileiro foi a grande vedete. No final, ele foi surpreendido com uma convocação do ministro da Educação do país vizinho, Francisco José Lloreda. “Ele simplesmente me convidou para participar da coletiva em que foi anunciado o primeiro provão da Colômbia. Tive de dar entrevista junto com o ministro”, conta Tancredo. Em 2002, os alunos de engenharia mecânica farão a prova, além dos alunos de medicina, tal como as regras brasileiras. A participação será obrigatória. “O Provão, como conceito, é fundamental. Não existe educação séria sem avaliação”, atesta o petista Cristovam Buarque, ex-governador do Distrito Federal e ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB). Ele acredita que é possível fazer reparos à elaboração das provas, mas considera a fórmula do Provão boa e merecedora do respaldo internacional. Internamente, porém, nem todos têm a mesma a opinião. “O provão serve muito mais ao marketing. Ele só vê o lado do aluno e não avalia as condições de funcionamento das faculdades”, critica o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Felipe Maia.

A capacidade de exportar programas para outros países não é privilégio do MEC. O próprio Cristovam Buarque é pai do bem-sucedido programa Bolsa-Escola, hoje uma referência mundial. Um verdadeiro ovo de Colombo, a Bolsa-Escola dá um salário mensal às famílias pobres para que mantenham suas crianças na escola, tirando-as da mendicância e do trabalho infantil.

Apoio – O programa teve início quando Cristovam comandava o governo do Distrito Federal e chegou a atender 20 mil famílias, que recebiam um salário mínimo mensal. O sucesso foi tanto que, este ano, o governo federal lançou sua versão do projeto, mantendo o mesmo nome. “O projeto ganhou prêmio da Unesco, e até a ONU adotou esse nome”, orgulha-se Cristovam. Através de sua ONG, a Missão Criança, o ex-governador já colaborou com a implantação da bolsa-escola no México, Colômbia, Equador, Bolívia, Chile e Argentina (Buenos Aires). No México, vai atender sete milhões de crianças. O ex-governador sonha alto e tem agora um poderoso parceiro, o megainvestidor George Soros, um dos homens mais ricos do mundo. Cristovam reuniu-se com o milionário nos EUA, num encontro acertado pelo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, que foi um administrador de fundos do megaespeculador. “Soros me pediu que fizesse o projeto para implantar na Guatemala, em Zimbábue, na África do Sul e em Moçambique, onde há muita exclusão social e trabalho infantil”, comemora Cristovam.

A mais nova estrela na pauta de exportações é o programa Alfabetização Solidária. Lançado há quatro anos pela primeira-dama Ruth Cardoso, o projeto tem 2,4 milhões de pessoas matriculadas e conta com a participação de universidades (encarregadas da parte pedagógica e do treinamento dos monitores), empresas e voluntários. Agora, chegou a vez de o Timor Leste, Moçambique e São Tomé e Príncipe adotarem o projeto brasileiro. No Timor, além de aprenderem português, os alunos são alfabetizados no tetum, dialeto local. No Brasil, o programa tem a participação de voluntários como a empresária Maria Tereza Forjaz, 53 anos, do Recife, que em maio de 2000 adotou 30 alunos. Depois, com a ajuda de amigos, adotou outros 100. Em Bom Futuro, no interior do Amazonas, Laura Ventura dos Santos, 64 anos, faz parte de um grupo de 22 alunos, que, durante nove meses, frequentarão a sala de aula três horas ao dia. “Aprendi um pouco no antigo Mobral, mas depois parei e esqueci tudo”, afirmou Laura, agora empolgada com a volta aos estudos.

Colaboraram: André Sarmento e Marcel Seco

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