Dizem que no mercado internacional as modelos brasileiras estão perdendo a vez para as belgas. Mas pelo menos no que toca ao mercado têxtil nacional, os estilistas daqui reinam soberanos. Basta um pedido de bambambãs como Fause Haten e Alexandre Herchcovitch para que uma fábrica de tecidos pare as máquinas. O desafio de conseguir uma fibra nova, ou alguma mistura de fios tecnológicos jamais obtida, é a senha para que os empresários coloquem toda a sua equipe a serviço dos magos das agulhas. Uma boa parte dessa revolução apareceu nos desfiles da São Paulo Fashion Week.

Max G Pinto
M. OFFICER A grife é a primeira a usar mistura de couro com lycra

Durante dois meses, a tradicional Paramount Têxteis designou uma equipe de 90 pessoas para dar vida aos pedidos de M.Officer, Ellus, Alexandre Herchcovitch e Ricardo Almeida. A tecelagem, que produz para grifes como Oscar de la Renta e Hugo Boss, está acostumada a vender 13 milhões de quilos de fios por ano e mais de três milhões de metros de tecidos de pura lã. Mas atende sem pestanejar se um desses brasileiros requisitar míseros dois mil quilos de fios. “Se criamos um padrão exclusivo para eles e o modelo vira moda, vendemos até 100 mil metros de tecido num ano”, explica Fuad Mattar, presidente da Paramount Têxteis. Uma de suas mais recentes ousadias foi produzir um lote de lã rosa-choque especialmente para a coleção outono-inverno de Herchcovitch. Para o estilista, que exporta 40% de sua produção para o Japão, Hong Kong, Londres e Nova York, trabalhar assim é uma delícia. “Tudo o que pedimos, os fabricantes fazem. É por isso que 95% dos materiais que uso são brasileiros.”

Max G Pinto
HERCHCOVITCH Ousadia no tecido rosa-choque feito sob encomenda

Roupas feitas a partir de garrafas de refrigerante, moleton com aspecto de lã e um tipo de couro que mais parece elástico são algumas das novidades da temporada. Pode ser que levem anos para ser desenvolvidas em grande escala, mas, uma vez mostradas nas passarelas, é certeza: todo mundo vai querer comprar. A Rhodia-Ster, por exemplo, colocou sua linha Alya-Eco bem à vista no Pavilhão da Bienal. Dona de um usina de reciclagem, a empresa desenvolveu tecnologia para lançar jeans, camisetas de algodão e quase todos os tipos de roupas feitos com garrafas de refrigerante recicladas. Para uma camiseta, duas garrafas bastam. Misturada ao algodão natural, a fibra dá origem a um tecido resistente e menos sujeito a amarrotados.

Elástico – Pioneiro no uso de jeans reciclado, o estilista Carlos Miele, dono da M.Officer, inovou usando uma mistura de couro bovino e fios de lycra. Criada pela DuPont, o novo tecido se amolda melhor ao corpo por ter o triplo de elasticidade do material natural. Conhecido por promover desfiles-performances repletos de novidades tecnológicas, Miele usou o couro elástico em quase a metade de sua coleção inspirada no candomblé. “Com essa mistura, dá para fazer peças antes impossíveis com couro: biquínis, tops, roupas sensuais bem justas”, diz.

Marcia Fasoli/Divulgação
ELLUS Na camiseta, o tactel aero, que protege contra os raios de sol

Nesta temporada, a regra é juntar fibras naturais e fios tecnológicos, aproveitando as vantagens de um e de outro. A grife Ellus, por exemplo, está investindo numa linha de jeans que tem o aspecto das calças de caubóis do século passado. “A idéia é juntar o moderno com o conforto do tecido natural”, diz Nelson Alvarenga, proprietário da marca. Como ele, os estilistas Reinaldo Lourenço e Renato Loureiro estão produzindo roupas femininas com tactel aero, uma evolução daquele tecido usado nas camisas de futebol. Trata-se de um fio de aparência opaca, extremamente leve. Misturado ao algodão, favorece a transpiração e protege a pele contra raios ultra-violeta.

Até quem estreou este ano no circuito oficial da moda entrou em sintonia com as novidades da indústria têxtil. A estilista Carla Fincatto, da grife Carlota Joaquina, ajudou a Douat Têxtil a desenvolver o suede, uma nova malha texturizada. O material lembra moleton, mas tem aspecto fofo, como o da lã ou do algodão. “Ela nos pediu um tecido dupla-face, que de um lado parecesse suplex e do outro flanelado de lã”, conta Gisele Araújo, gerente de produto da fábrica de fios. “O tecido vai para a passarela com a cara de marca nova e daqui a uma ou duas estações o mercado inteiro estará usando.” A indústria têxtil agradece e faz figa.