Lugar de garrafas plásticas, pára-brisas quebrados, pneu velho é no lixo, certo? Não é o que pensam os quase 200 catadores de papel de Belo Horizonte. Acostumados a trabalhar com esses materiais, eles transformaram sucata em obra de arte. Montaram a Associação dos Catadores de Papelão e Material Reaproveitável, Asmare, promoveram a coleta seletiva na capital e organizaram oficinas para fazer objetos e móveis de decoração. Agora, inovam mais uma vez. Na sexta-feira 9, inauguram o Reciclo, um bar e espaço cultural com palco para shows, telão e restaurante. Localizado na avenida do Contorno, point da noite em BH, vai abrigar, divulgar e comercializar material reciclado.

O trabalho foi coordenado pela artista plástica Flávia Berindoague. O local, um antigo galpão de dois pavimentos, é ideal para se tomar um chope e degustar pratos personalizados – o cliente prepara seu próprio prato. Os cozinheiros, os garçons e o barman são ex-catadores de papel que reciclaram sua mão-de-obra nas aulas da oficina de culinária. “Essa iniciativa é maravilhosa, sensibiliza as pessoas para o trabalho sério dessa associação. O bar tem tudo para se transformar em ponto de referência da noite de Belo Horizonte”, comenta a empresária e socialite Angela Gutierrez. Até os tradicionais músicos do Clube da Esquina, como Lô Borges, prometem virar frequentadores do Reciclo. “A Asmare é uma lição para a comunidade, mostra que é possível organizar e fazer algo social. Tomar chope nesse local é unir o agradável ao útil.” A atriz Cláudia Bentto concorda. “Gastar dinheiro em um local onde os lucros são destinados para obras tão importantes fica bem mais gostoso.”

Organizados desde 1990, os catadores conquistaram o direito de atuar como agentes da coleta seletiva. A associação ganhou reconhecimento internacional e os membros fizeram até palestras em Nova York sobre reaproveitamento do lixo. Também ganhou vários prêmios, inclusive da Unesco. “Acabamos com os atravessadores. Atuamos em parceria com o poder público e a iniciativa privada, oferecendo aos catadores de papel renda mensal entre dois e cinco salários mínimos, além do direito ao vale-transporte e à moradia com a bolsa-aluguel”, afirma o presidente da associação, Natalino Augusto Teixeira.

Para conseguir a bolsa-aluguel, o interessado tem de ter boa conduta, não consumir bebidas alcoólicas e os filhos devem frequentar a escola. Até o final deste ano, cerca de 250 moradores de rua devem estar trabalhando nas oficinas da Asmare.