Renato Velasco
A estudante Renata: sem vida pessoal

Numa época em que o ensino público superior está morrendo à míngua, o mundo acadêmico brasileiro recebeu, com empolgação, a notícia de que o Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Coppead), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi escolhido pelo jornal inglês Financial Times como uma das 100 melhores escolas do mundo na área de negócios. Ficou em 99º lugar. A escola foi classificada em 17º lugar no mundo na avaliação do êxito alcançado por seus alunos e em 18º lugar na categoria recolocação no mercado de trabalho. Por ser gratuito – enquanto os melhores MBAs (Master in Business Administration) são caríssimos –, o Coppead conquistou o primeiro lugar em custo-benefício. O reconhecimento é motivo para elevar a auto-estima do ensino público brasileiro. É a primeira vez que uma faculdade latino-americana aparece no conceituado ranking. A notícia confirma a tese de que a universidade pública, apesar da escassez de recursos, tem força suficiente para superar as adversidades.

O principal diferencial do Coppead em relação às demais escolas de administração é o seu corpo docente, formado por 25 professores altamente qualificados e com dedicação exclusiva. Antes mesmo de ser reconhecida internacionalmente, esta ilha de excelência já havia virado pouso obrigatório para as maiores empresas e instituições financeiras do País. É lá, do campus da UFRJ, que as grandes corporações costumam recrutar os alunos recém-saídos do curso de mestrado em administração. O co-presidente da Ambev, Marcel Telles, por exemplo, virou frequentador assíduo da escola e vem repetindo um mesmo ritual há cinco anos: acompanhado de sua diretoria, Telles desce de helicóptero no campus, num dia qualquer do mês de julho (quando tradicionalmente ocorre a semana de recrutamento das empresas), só para conhecer pessoalmente os jovens profissionais promissores. “Gostamos de trabalhar com este pessoal. Costumamos dizer que eles são trainees turbinados”, brinca o diretor de Gente e Qualidade da Ambev, Maurício Luchetti, que acompanha Telles nesses contatos nas universidades.

Marcel Telles, da Ambev, desce de helicóptero no campus para recrutar os alunos do Coppead

A megaempresa Ambev, que nasceu da parceria entre a Brahma e a Antarctica e se transformou na maior fabricante brasileira de bebidas e a quinta do mundo, está de olho em três alunos do Coppead que concluíram o curso em 2000 e, no momento, fazem intercâmbio em universidades americanas. A vantagem em relação a outros MBAs feitos no Exterior é que o aluno fica dois anos trancado numa universidade, mas não se distancia da realidade brasileira. “Eles chegam aqui na Ambev em ponto de bala, prontos para o trabalho e extremamente bem informados sobre a nossa economia”, diz Luchetti.

Gustavo Lourençao
O ex-aluno Henrique Meirelles, presidente do BankBoston, diz que a escola já era avançada em sua época

Antes de conquistar o tão desejado emprego, os alunos ficam praticamente ilhados no Coppead. Ninguém trabalha, só estuda. Durante as 16 horas de carga horária semanal, fazem uma incursão nas áreas de finanças, marketing, produção, recursos humanos, logística e estratégia. Nessa escola de primeiro mundo, os estudantes saem com o título acadêmico de mestrado stricto senso (o que significa que todos são obrigados a defender uma tese), e estão aptos a disputar qualquer vaga no mercado de trabalho. Estatísticas internas feitas pelo Coppead mostram, por exemplo, que 48% dos alunos conseguem emprego em menos de um mês após a conclusão do curso e 81% deles em até três meses. Isso sem falar no salário. A remuneração média costuma ser bem superior àquela recebida antes do início do mestrado: um aumento salarial, em média, de 137%. Segundo levantamento do Financial Times, os ganhos obtidos giram em torno de R$ 145 mil anuais, o que significa um salário mensal de R$ 13 mil. Há alunos que não só conseguem uma excelente colocação no mercado como alcançam o topo do mundo dos negócios. É o caso de Henrique Meirelles, presidente do FleetBoston Global Bank e do BankBoston desde 1996, formando da primeira turma de mestrado do Coppead, em 1974. “O curso era uma perfeita combinação de preparo técnico com uma discussão bastante avançada para a época. Sempre a considerei uma das melhores escolas do mundo, e hoje, como membro dos conselhos das escolas de administração do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Harvard e Boston College, confirmo esta impressão inicial”, derrete-se o banqueiro goiano, de 55 anos. Ele foi presidente do BankBoston no Brasil durante 12 anos, antes de assumir o cargo máximo da instituição financeira internacional.

Rigidez – Para usufruir de todos estes atributos não basta ser bom. Só entra no Coppead quem fica entre os 5% mais bem colocados no exame da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (Anpad). Depois, o candidato ainda passa por uma rígida avaliação curricular. A faixa etária gira em torno de 27 anos. Renata Bezerra é uma exceção. Aos 22 anos e sem nenhuma experiência profissional, saiu da Escola de Economia da UFRJ direto para o Coppead. “O único problema é que nossa vida pessoal acaba completamente. Se eu estivesse namorando, o romance não resistiria”, afirma. Ela sabe que o sacrifício vai valer a pena. Com um currículo do Coppead debaixo do braço, é bem provável que Renata tenha um futuro profissional brilhante.