A notícia de que a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, acabou seu casamento com o senador Eduardo por causa do argentino Luiz Favre não é novidade para a imprensa, muito menos para a alta cúpula do PT. Marta, separada há quatro meses, anunciou, há cerca de 20 dias, para os dirigentes de seu partido, a disposição de assumir publicamente o romance. O que pegou de surpresa as estrelas petistas foi a informação de que Marta, 56 anos, vai se casar com Favre, 51 anos, assim que assinar o divórcio. E que a data marcada para o enlace é o ano eleitoral de 2002. A nota publicada pela jornalista Hildegard Angel em sua coluna, no jornal O Globo, na sexta-feira 10, fez subir um tom a passionalidade do tango dançado por Marta desde que rompeu com o marido. “Da minha vida pessoal, eu não falo”, reagiu a prefeita ao responder aos insistentes apelos dos jornalistas, inclusive internacionais. O namoro de Marta atravessou fronteiras e foi noticiado pela agência France Press e pela CNN.

Fragilidade – O PT sabia que o affair da prefeita era uma bomba-relógio, mas não contava com a rápida detonação do petardo, que, segundo a cúpula do partido, pode piorar ainda mais a imagem da prefeita e, por tabela, atingir a candidatura de Lula ao Planalto. Marta tinha essa preocupação. E ousou em mais um passo ao avisar Lula que já havia conversado com o senador Eduardo Suplicy sobre oficializar seu relacionamento com Favre. No ir-e-vir do choro dramático do bandônion, ela chegou, segundo petistas próximos, a endurecer o diálogo com o ex-marido. Advertiu o senador que reagiria se ele usasse sua fragilidade emocional politicamente contra ela, Favre e a prefeitura. Sobre o matrimônio, Lula desconversa: “Não sou padre nem juiz de paz para saber de casamento.”

Favre, fiel escudeiro de Marta durante a campanha, nasceu num cortiço de Buenos Aires, berço do tango, sob o nome de Felipe Warmus. Integrou grupos trotkistas em Paris onde adotou o nome de guerra Luiz Favre. O argentino foi casado quatro vezes. Sua terceira mulher foi a brasileira Marília Andrade, filha dos donos da empreiteira Andrade Gutierrez. Nessa época, o argentino estava bem próximo de Lula. Lurian, filha do líder petista, chegou a passar seis meses na casa do casal em Paris. Depois da vida na França, Favre mudou de hábitos e passou a ser conhecido como um bon vivant, amante de vinhos e charutos caros. Atualmente, estava casado com a urbanista francesa Sophie, com quem tem um filho de cinco anos. Ele está no Brasil desde a última semana de julho.

“Suplicy está desestruturado e a reação dele pode fugir do controle”, contou um petista. No partido, fala-se que aliados do senador estão buscando fatos polêmicos que possam atingir a reputação do argentino e de seus negócios em Paris. Atarantados, líderes do PT já estão tratando de desvincular a imagem de Favre do partido, embora, extra-oficialmente, ele organize agendas para petistas na França junto a empresários e políticos socialistas, alinhados ao primeiro-ministro Lionel Jospin. O secretário de Relações Internacionais do PT, deputado Aloizio Mercadante, está deixando claro, dentro e fora da legenda, que Favre não trabalha mais para a secretaria.

Preconceito – Uma outra pedra no sapato dos petistas é a eventual reação machista da população contra Marta e a brusca ruptura de uma tradicional família que se tornou um símbolo político forte em todo o País. Um exemplo de atitude preconceituosa é a ameaça dos perueiros, que acamparam na prefeitura em protesto contra a fiscalização. Eles prometem se vestir de mulher, provocando a prefeita. “Ela só se preocupa com homossexuais”, gritavam os líderes do movimento.

“Ela abre mão de um casamento de 36 anos, com três filhos, que estão ao lado do pai, que sofre, e pensava em reatar a relação, para viver uma paixão. É difícil que a maioria da população defenda o direito de Marta de ter uma nova vida. Ele vira a vítima e ela a vilã. A exploração desse sentimento torna-se um prato cheio para qualquer bom marqueteiro da oposição”, avalia um líder do PT, que prefere não se identificar. O senador Eduardo Suplicy confidenciou a um parlamentar do partido que o jantar promovido por Marta em sua nova casa, na noite de segunda-feira 6, para aproximar o sertanejo Zezé Di Camargo de Lula teria sido uma manobra dos dirigentes nacionais para tirar dos bastidores o romance da ex-mulher com o argentino.

A participação de Favre teria sido uma supresa para Lula e José Dirceu, mas o senador não crê nessa versão. Favre sentou-se distante da prefeita e saiu à francesa, sem cumprimentar a dona da casa, o que acabou chamando mais atenção dos convivas. No entanto, as aparições públicas de Marta com Favre começaram no sábado 4, quando foi à pré-estréia da Filarmônica de Israel, regida por Zubin Mehta, na Sala São Paulo. Sentaram separados por uma poltrona. Enquanto Marta e Favre ensaiam passos do tango, ouvem o clássico e aplaudem o sertanejo, o senador Suplicy continua vivendo o embalo de seu romantismo com boas doses de nostalgia.