Nelson Piquet acelera no retão deixando para trás os rivais. A rápida troca de marchas e as mãos firmes no volante impressionam. Ele garante o segundo lugar em sua primeira corrida no campeonato sul-americano de Fórmula 3, no domingo 5. Corre com o pé no acelerador e o peso de um sobrenome. O Nelson Piquet em questão não é o genial piloto que ganhou três dos oito títulos mundiais do Brasil na Fórmula 1, mas um de seus sete filhos. Nelson Ângelo Piquet, 16 anos, 1,75 m, 65 quilos, disputou com “carros de verdade” e conquistou um lugar no pódio na etapa da competição realizada no autódromo que leva o nome de seu pai, em Brasília. Foram duas estréias. O jovem piloto disputou sua primeira prova na categoria em um carro da Piquet Sports, equipe criada pelo pai para alavancar a carreira do pupilo. A prova, transmitida pela Rede Globo com comentários de um nervosíssimo Nelson Piquet, rendeu dez pontos no Ibope. Pouca gente notou, mas ela foi vencida pelo gaúcho Juliano Moro.

Nelson Ângelo chegou à F-3 com um tricampeonato brasileiro de kart no currículo. Muito para um adolescente de aparelho nos dentes, fanático por videogame, shopping center e Big Mac. Pouco para o filho de Piquet. Ele aprendeu cedo com o pai que piloto tem obrigação de vencer porque ninguém se lembra do vice. O tricampeão chegou a dar uma bronca violenta no filho por ter comemorado um segundo lugar no kart, mas no domingo abandonou o rigor ao ver o garoto no pódio. “Ele correu como um veterano”, vibrou o pai. “Nunca me senti tão pressionado na minha vida”, desabafou o jovem piloto. “Foi uma estréia sensacional. Nunca vi tanta pressão e cobrança sobre uma pessoa”, faz coro o chefe da equipe, o engenheiro Felipe Vargas, 33 anos, o tutor profissional do herdeiro do clã Piquet. A segunda prova será em Fortaleza, no domingo 12. A imprensa batizou o rapaz de Nelsinho, mas pai e filho não gostam do diminutivo. Preferem Nelson Ângelo.

Desde que veio morar com o pai em Brasília, aos oito anos, deixando para trás o belo principado de Mônaco, onde vivia com a mãe, a bela holandesa Sylvia, Nelsinho vem sendo talhado para ser o sucessor do tricampeão. “Ele sempre foi cobrado. Não sabe o que é viver sem pressão”, conta a empresária Viviane, atual mulher de Piquet. A exemplo do pai, Nelson Ângelo gosta de acordar tarde e não é muito chegado a corridas e abdominais. “Se dependesse dos exercícios, não iria mesmo muito longe”, admite o rapaz. Mas terá que mudar de vida. Felipe quer transformá-lo em atleta. Nelson Ângelo estuda das 8h às 15h30 e treina das 16h às 18h. Terá que fazer ginástica aeróbica, musculação para fortalecer braços e ombros, buscar uma boa alimentação e treinar ainda mais. Na retaguarda empresarial, já vale um investimento de US$ 1 milhão. Ele pode estar a oito anos de pilotar um F-1. Deverá ficar três anos no sul-americano antes de disputar as provas da F-3 inglesa. Se tudo der certo, chegará à F-1 aos 24 anos. Fora das pistas, começa a sentir o gosto do sucesso. Em casa, o telefone não pára. “São as namoradas”, entrega Viviane. Além do amor pelo cockpit e pelas longas noites de sono, Nelsinho herdou do pai a ambição e a sinceridade. Perguntado se gostaria de ser um piloto igual ao pai, fulminou: “Igual, não. Melhor!” Trata-se de um legítimo Piquet, não há dúvida.


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