Um jovem palestino, aparentando cerca de 20 anos, entrou com uma bolsa na pizzaria italiana da rede Sbarro, localizada entre as ruas Jaffa e King George, as mais movimentadas do centro de Jerusalém Ocidental, em Israel. Eram 14 horas (8 da manhã em Brasília) da quinta-feira 9. O rapaz olhou para os lados e detonou uma bomba. A poderosa explosão destroçou seu corpo e matou outras 14 pessoas, entre elas cinco crianças e um bebê de poucos meses. Todas israelenses ou judias. Como a bomba continha pregos, o número de feridos atingidos por estilhaços foi alto: cerca de 130. Foi o mais violento ataque desde o reinício da Intifada (rebelião), em setembro do ano passado. Por conta das férias de verão, a pizzaria estava abarrotada. Entre os turistas, estavam três brasileiros de origem judaica. Jorge Balazs, 64 anos, do bairro paulistano do Bom Retiro, está entre os mortos. Sua mulher, Flora Rosembaum, e sua filha, Deborah Brando Balazs da Costa Frias, saíram feridas.

As cenas mostradas pela tevê eram de um filme de terror. Um soldado israelense disse que jamais esquecerá a imagem de uma mãe gritando desesperadamente ao ver que sua filha de dois anos estava morta. Anat Amar estava servindo pizza no momento do atentado. “Ouvi um estrondo no teto e muita fumaça. Minha filhinha ficou sob um amontoado de cadeiras. Gritei para o meu filho mais velho, que a carregou para fora dali”. Em poucos segundos, a pizzaria foi transformada em um amontoado de destroços, sangue e estilhaços. Carrinhos de bebês amontoados na porta, gente correndo para todos os lados levando os feridos, e as ambulâncias chegando, com suas ruidosas e incessantes sirenes.

Escola para terrorista – As organizações palestinas islâmicas extremistas Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) e Jihad (Guerra Santa) assumiram o sangrento atentado. Uma mensagem foi enviada às agências internacionais com uma foto do suicida, Izz el-Din al Masri, 23 anos, com explosivos em torno do corpo, segurando um fuzil M-16 em uma mão e um livro do Corão em outra. No comunicado, os extremistas acusam o governo de Israel de ter eliminado várias lideranças palestinas. “A bomba é a resposta aos covardes assassinatos que Israel está realizando contra os palestinos. Mais suicidas estão a caminho”, dizia a mensagem. Em resposta aos ataques, o governo de Ariel Sharon fechou a sede da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em Jerusalém Oriental e bombardeou um prédio da polícia palestina, próximo a Ramallah, na Cisjordânia. Nos últimos dez meses, mais de 560 palestinos – 16 suicidas – e 130 judeus morreram.

Izz era da cidade de Jenin, na Cisjordânia, e pertencia ao Hamas. A família relatou que, naquela tarde, ele deixou o restaurante do pai em Aqqaba, próximo a Jenin, com o propósito de se tornar um mártir dos palestinos. “Quando soube da operação, não tive dúvidas de que era meu filho. Vou chorar e lamentar por ele toda a minha vida”, disse o pai Shueil. Mas o irmão sentiu orgulho de Izz. “Esta foi uma operação única, tanto por sua qualidade como por seu sucesso. Os palestinos podem agora manter sua cabeça erguida”, disse Eyad. Assim como Izz, os camicases são jovens, a maioria deles entre 18 e 23 anos. Segundo uma pesquisa do jornal Yediot Aharonot, metade são universitários, cerca de 83% são solteiros e quase 70% provêm da Faixa de Gaza.

Tanto o Jihad quanto o Hamas admitem que os homens-bombas palestinos se iniciam cedo na jornada da matança. “Nós ensinamos às crianças que os ataques suicidas são a única forma de amedrontar os israelenses. E, mais do que isso, nós explicamos a eles que temos o direito de fazer isso”, afirmou o líder do Jihad, Mohammed el-Hattab. Na escola do ódio, os meninos palestinos aprendem que ser um homem-bomba é a única maneira de atingir diretamente a população israelense. Em uma escola do Hamas, na Faixa de Gaza, está escrito: “As crianças são os mártires do amanhã”. E na Universidade de Gaza, outro lema: “Israel tem bombas nucleares, nós temos bombas humanas.”

As pequenas bombas humanas fazem cursos de verão, quando estão de férias. As aulas são ministradas por líderes do Jihad e do Hamas. “Você não começa a educar um garoto aos 22 anos, mas quando ele é ainda pequeno, porque, quando atingir seus 20 anos, estará procurando uma oportunidade para ser sacrificado”, diz Roni Shaked, expert em terrorismo e ex-membro do Shin Bet, organismo de segurança interna de Israel. O pequeno Mohammed é um deles. Esse garoto de 14 anos está em uma escola do Jihad. Com explosivos envoltos em fitas adesivas por seu corpo, Mohammed afirmou que está pronto para matar judeus. “Eu quero libertar os palestinos e ser parte da revolução”, diz ele. Os “professores” mostram a eles fotos como a de Izz em suas missões de morte e prometem que, se forem suicidas, suas fotografias também serão espalhadas pelas ruas, escolas e mesquitas, como símbolo do heroísmo dos palestinos. “Farei do meu corpo uma bomba que irá arrebentar a carne dos sionistas, filhos de porcos e macacos”, disse Ahmed, 11 anos.

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Na sociedade islâmica, o sexo antes do casamento é bastante restrito. Então, outro chamariz para os meninos é a promessa dos extremistas de que, quando atingirem o céu, serão contemplados com 73 virgens cada um. O número é um mistério. Por que não 50 ou 80? Além do reconhecimento como mártir, os radicais oferecem recompensas às famílias dos suicidas, apoiando-as financeiramente. Vivendo em condições miseráveis e em alta tensão, essas famílias acabam tendo razões adicionais para apoiar tais ações. De acordo com o Centro Palestino de Opinião Popular, 76,1% dos palestinos de Israel e dos territórios de Gaza e Cisjordânia apóiam ataques suicidas.

Esses ataques são meticulosamente preparados. O Hamas é a organização que realiza a maior parte dessas ações. O braço armado do Hamas, Izzedin al-Qassem, tem cerca de 300 integrantes. O homem-bomba é escolhido apenas alguns dias antes da missão. O escolhido é levado a um cemitério. Ali, ele deita entre as tumbas e é coberto por um lenço branco, em uma simulação de como ficará depois da morte. Alguns jornalistas do Oriente Médio que presenciaram atentados afirmam que os suicidas tomam drogas antes da operação, mas não há confirmação disso.

Suicídio polêmico – Se o paraíso é prometido ao homem-bomba, a questão do suicídio para os seguidores do Islã é polêmica. O Corão condena o suicídio, como no tópico Surah-an-Nisaa 4:29-30: “Oh, vocês que crêem! (…) Não se matem, porque verdadeiramente Alá tem sido com vocês mais misericordioso. Se qualquer um fizer isso, com rancor ou injustiça, devemos logo castigá-lo com fogo” . Mas os radicais islâmicos se sustentam em outra parte de seu livro sagrado para justificar os atentados, dizendo que lutar pela opressão é recomendável. “E por que não lutar pela causa de Alá e daqueles que, sendo fracos, são maltratados e oprimidos? Homens, mulheres e crianças cujo clamor é: ‘Senhor! Salve-nos desta terra onde há opressores! E faça levantar para nós aqueles que vão nos proteger e nos socorrer’” (Surah-an-Nisaa 4:75).

Agora, os extremistas israelenses encontrarão justificativas para as mais selvagens repressões. Afinal, olho por olho, dente por dente, a famosa lei do talião, tem sido a moeda corrente no Oriente Médio, nos últimos tempos.

Vítimas brasileiras

A viagem foi ótima. Estamos preparando os passeios, sempre com o cuidado de evitar os lugares mais perigosos.” Essa mensagem foi enviada de Jerusalém na quarta-feira 8, por e-mail, pela museóloga Deborah Brando Balazs da Costa Faria, 44 anos, ao seu marido, o funcionário da Prefeitura de São Paulo Antonio Augusto da Costa Faria. Deborah, seu pai, o judeu brasileiro Jorge Balazs e sua madrasta, Flora Rosembaum (abaixo), foram vítimas do ataque terrorista. Eles viajaram para o casamento do irmão de Deborah, Aran. Jorge Balazs, 64 anos, chefe de cozinha aposentado, morreu e será enterrado em Israel. Deborah e Flora estão internadas no Hospital Haddassah Ein Karem, em Jerusalém. Costa Faria, que mora num bairro da zona sul de São Paulo, disse a ISTOÉ que Deborah está fora de perigo, mas sofreu vários ferimentos, com estilhaços nas pernas, queimaduras e ficou com um parafuso nas mãos. Costa Faria disse que Deborah não deverá sair do hospital antes do dia 20. Flora perdeu os dentes da frente, sofreu fortes queimaduras e sangrou profundamente na cabeça. Ela deve ficar mais três semanas em Jerusalém. Flora e Jorge se conheceram num kibutz e sempre iam a Israel, mas esta era a primeira vez que Deborah viajava à Terra Santa.


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