Passados nove anos de sua graduação em filosofia, a professora Ida Thon, 54 anos, enfiou na cabeça que deveria voltar a estudar. Por conta do trabalho no Museu Nacional do Calçado, na cidade gaúcha de Novo Hamburgo, onde mora, resolveu ter noções de museologia. Mas para isso deveria contornar uma enorme dificuldade: o curso mais próximo ficava a 1.200 quilômetros de distância, em São Paulo. A solução encontrada não poderia ser mais prática. Ida fez o curso sem sair do quarto. O computador foi a sua escola: teve aulas pela internet no site Urbi ad Verbum. “Fiquei muito satisfeita com o resultado”, comemora. Casos como esse são cada vez mais frequentes. O ensino pela web está passando por uma explosão no Brasil e já existem mais de 30 mil cursos online. Há de tudo, desde graduação e pós-graduação a treinamento profissional, passando por cursos prosaicos do tipo “planejamento do orçamento doméstico”. Um dos projetos mais ambiciosos é a Universidade Pública Virtual do Brasil (Unirede), um consórcio de 68 instituições públicas. Enquanto a multiplicação de sites cria novas opções para quem pretende estudar pela rede, pega fogo a discussão dos especialistas para definir até que ponto é válido o aprendizado virtual. O boom exige do internauta cuidado redobrado para separar os cursos caça-níqueis daqueles que podem se transformar em credencial para o mundo acadêmico e profissional.

Até pouco tempo atrás, os cursos online não eram mais do que passatempo. Alunos fingiam aprender informática ou idiomas através de recursos limitados, uma chatíssima combinação de textos e poucas ilustrações. Nada que explorasse de verdade o potencial da internet em favor do estudante. Com a chegada dos cursos de treinamento profissional e de ensino superior, o cenário está mudando. Novas tecnologias combinam texto, vídeo e áudio para estimular o aprendizado. Quase todos têm também um professor online à disposição, que responde às dúvidas via e-mail. Algumas universidades da Unirede já dão diplomas nas áreas de pedagogia e licenciatura plena. Além disso, oferecem cursos rápidos em vários campos do conhecimento. O professor João Mafaldo Neto aprendeu como criar páginas na internet em um curso da Universidade Federal do Ceará. “Hoje me sinto apto a pôr no ar um site. Foi bastante proveitoso”, avalia. Várias outras instituições públicas e privadas dão cursos desse tipo, incluindo grifes como UFRJ, Unicamp, PUC e USP. Embora o Ministério da Educação ainda não reconheça a legitimidade dos cursos online.

Mas, afinal, como é a experiência de ter um computador como mestre? O administrador de empresas Sylvio Lazzarini, 48 anos, fez pela internet o curso de especialização em administração de negócios na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. O aprendizado durou um ano e Lazzarini gostou. “O curso exigiu muito e foi altamente compensador. Não trocaria esse método. Já estou me programando para fazer outros”, diz ele. Uma das atividades de que mais gostou foi participar dos grupos de discussão. “Surgem sempre boas idéias nesses fóruns”, revela. O problema é saber se todos os alunos conseguirão superar a falta de um professor ao seu lado. “Nas aulas pela internet, o estudante precisa demonstrar maior empenho”, afirma Carlos Lucena, membro da Academia Brasileira de Ciência e um dos pioneiros do ensino a distância no Brasil. Ele coordena desde 1997 uma experiência na PUC do Rio de Janeiro, onde vários cursos já utilizam a internet nas aulas.