Minutos antes de gravar sua participação em Zorra total, humorístico da Rede Globo exibido aos sábados, às 22h, a comediante Nair Bello, que interpreta a enérgica Santinha, desaparece misteriosamente. Só quem a conhece bem sabe que ela está percorrendo o estúdio à procura de três pregos, se possível tortos, para guardá-los no sutiã. “Não sei quando comecei a fazer isso. Superstição não se explica. Só sei que dá uma energia boa. O problema é que às vezes também dá uma machucadinha”, conta ela em meio à famosa gargalhada que todo mundo adora ouvir nas festas. Santinha e o marido, Epitáfio – na verdade, uma revisão de um antigo quadro protagonizado por Nair e pelo falecido Renato Côrte Real, na década de 60, na TV Record –, são das melhores atrações de Zorra total, junto ao Pitibicha de Tom Cavalcante (leia quadro) e à dona Zulmira de Fafy Siqueira. O casal é um sucesso de público, principalmente entre as crianças, que sadicamente adoram ver o sofrimento do Epitáfio de Rogério Cardoso. “É um humor físico, sem segundas intenções. Ingênuo, despretensioso, tipo pastelão, meio circense, sem sofisticações”, define Cardoso. Outro trunfo do quadro, sem dúvida, é quando Nair ri espontaneamente das improvisações do companheiro. “Todo mundo fica esperando eu dar risada e isso desperta uma cumplicidade com o público. Não me acho engraçada, mas fazer rir é uma bênção”, diz, modestamente, a comediante de 70 anos e 52 de carreira, dona de um sotaque italianado, reconhecido a distância.

Engana-se, porém, quem acha que Nair Bello tenha grande intimidade com a Itália, terra de seus avós. Por ter medo de avião, só em abril deste ano ela conheceu o país. “Como eu não ia à Itália, a Regina Casé dizia que eu era uma fraude”, brinca. “Não sou nada versátil”, assume. Consciente, ela costuma implorar a autores como Carlos Lombardi que não escrevam outros papéis que não sejam o de “mamma” italiana. “Pelo amor de Deus, não vai me botar de baiana na novela”, já disse, certa vez, a Lombardi. Santinha é mais um de seus tipos espalhafatosos. Na origem do quadro, para se proteger das tamancadas, Côrte Real usava jornais amassados embaixo de um lenço na cabeça. Rogério Cardoso recorre a uma camada de espuma. “O tamanco é de isopor, mas dói”, diz Nair, que não cansa de elogiar a sintonia com o companheiro de cena. Só não aprova certas brincadeiras. “Ele fica me agarrando e eu fugindo, parecendo uma louca.”

Nos 46 anos em que esteve casada com o marido, Irineu Francisco – falecido há dois anos –, Nair era proibida de beijar seus parceiros. Cumpriu a restrição à risca e agora não consegue mais se livrar dela. “Acho que criei uma armadura em torno de mim e só vou resolver isso no psiquiatra”, revela a atriz. Ao longo da vida, sua prioridade foi sempre o casamento. “Não tem ibope que pague uma família”, afirma, surpresa com a própria eloquência. Mãe de quatro filhos – um deles falecido –, Nair vive sozinha num belo apartamento em Higienópolis, zona central de São Paulo, no andar térreo, pois morre de medo de elevador.

Cervejinha – Sua rotina é gravar apenas às sextas-feiras. Durante a semana dorme e acorda cedo. Em nenhum dia, contudo, abdica de uma cervejinha na hora do almoço e do cigarro logo pela manhã, hábito que carrega desde os 12 anos. Também não recusa um bom carteado. “Quando fui gravar a novela Vira-lata em Las Vegas, às sete da manhã já estava no cassino”, conta. Mas diversão mesmo é quando está na companhia das amigas Hebe Camargo e Lolita Rodrigues. Num dos últimos encontros, ela e Hebe ficaram horas debochando da própria falta de memória, já que não se lembravam mais dos nomes de pessoas próximas. De brincadeira, criaram na hora um diálogo de desmemoriadas, que muito provavelmente em breve será reproduzido nos palcos. Carlos Lombardi quer que as três amigas façam uma peça escrita por ele. “Está nas mãos delas. É só pararem de enrolar que a gente começa”, sentencia o autor. “Serão três viúvas que se recusam a ficar tricotando. Vivem e se divertem”, adianta ele.

Por enquanto, Lombardi já tem pronta outra personagem televisiva para Nair. É a Marquesa de Pesto, uma das protagonistas da minissérie global de título provisório Quintos dos infernos, com estréia prevista para janeiro de 2002. A história revive a passagem de dom João VI e da princesa Carlota Joaquina pelo Brasil, como conta o autor. “Na verdade, ela não é marquesa coisa nenhuma. É uma italiana da Calábria que vai parar em Portugal depois de ser acusada de matar o marido e acaba integrando a corte real.” Mamma mia! 

Garotos alegres

Tom Cavalcante andou purgando seus pecados no período de ascensão e queda de seu nome nos luminosos da Rede Globo. Depois de se lançar nacionalmente como João Canabrava na Escolinha do Professor Raimundo, consolidar sua fama encarnando o Ribamar de Sai de baixo e finalmente fazer seu vôo solo no fracassado Megatom, o humorista deu um chute no baixo-astral justamente com o personagem que sofreu censura interna no finado programa vespertino. Agora, como Pitibicha, ele volta para a boca do povo. O bordão “cuecão de couro” virou fonte de piada e o gay bigodudo, de vozeirão – espécie de Freddie Mercury dos trópicos –, é uma das maiores audiências de Zorra total. “Pitibicha nasceu da reunião de muitas cabeças, redatores, maquiadores, figurinistas e do povão que o faz crescer cada dia mais”, afirma Cavalcante, que faz questão de dividir os aplausos com Heitor Martins, o Pitibitoca, 30 anos e 1,38 m “e meio”. Apelidado de Borboletinha de Taubaté, até dois anos atrás Martins vendia carros naquela cidade paulista quando, decidido, resolveu mudar de vida. Nesta segunda experiência como ator, ele já conquistou elogios. “Foi amor à primeira vista”, brinca Cavalcante. Além de Zorra total, Tom Cavalcante retornou à Escolinha, novamente vestindo o bêbado João Canabrava. E melhor: às boas com Chico Anysio.

Luiz Chagas