Personagens em forma de boneca ou bonecas com personalidade histórica? As duas definições são apropriadas para a coleção Brasileira D+ da Freso, que vem acompanhada de um CD e um livro. São bonecas literárias com uma proposta educativa. As figuras escolhidas, porém, não lembram nem a geniosa Carlota Joaquina nem a polêmica marquesa de Santos nas poses enigmáticas dos livros de história. As bonecas representam quatro meninas comuns que, com suas aventuras, trazem para as crianças períodos importantes da formação do Brasil. A indiazinha Potyra mostra como foi para os seus olhos infantis a chegada da esquadra de Cabral ao Brasil; curiosa, a portuguesa Marília acaba por flagrar uma reunião dos inconfidentes devido a uma travessura; Giovana, que viveu numa colônia italiana anarquista, revela um outro lado da história da imigração no Brasil; e Leila, com seu inconformismo, faz um recorte da revolução de costumes da década de 60. “O mercado de bonecas é composto de bebês que estimulam o instinto maternal e pequenas mocinhas-modelos que as crianças tentam imitar. Queríamos uma boneca que fosse protagonista de determinado momento histórico, que instigasse a imaginação infantil e o interesse pelo que é nosso”, explica Christine Ditchfield, presidente da Freso, indústria de brinquedos do Paraná.

O processo de fabricação das bonecas, que custam R$ 100 cada, também é diferente. Elas saem da linha de montagem e passeiam por projetos sociais e cooperativas de artesãos. A saia de taboa e os adereços de bambu da indiazinha Potyra, por exemplo, são confeccionados por tribos indígenas de Cabrália (BA) e São Sebastião (SP), coordenadas pelo Instituto Arapoty, de São Paulo.

Por trás dos trejeitos e maneirices das personagens está a experiência de dois nomes respeitados da literatura infanto-juvenil: Ruth Rocha e Anna Flora. A primeira prestigia a inesquecível Leila Diniz e a namorada do inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, cortejada em versos com o pseudônimo de Marília (quem não se lembra de Marília de Dirceu?), e a segunda foge ao lugar-comum ao falar do descobrimento e da imigração. “A colônia italiana onde vive Giovana existiu no Paraná e foi uma experiência única. Agora, as situações vividas por Potyra passam pela minha própria infância, mais exatamente por um mural antigo de uma índia que a minha avó tinha em casa”, conta Anna Flora. Fazer a ligação da boneca com a própria história é algo quase automático. Foi assim também com Stéphanie Diogo Pereira Nunes, nove anos. “Quando vi Marília, logo gostei. Estudei imigração no ano passado, além disso meu avô é português. Lemos o livro e ele também gostou”, conta a menina


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