Desde o acidente sofrido por Herbert Vianna e sua mulher, a jornalista inglesa Lucy Needham Vianna, no domingo 4, em Mangaratiba, litoral sul do Rio, um misto de sofrimento e angústia tomou conta do País. Enquanto todos torcem pela recuperação do músico, uma pergunta fica no ar. O que leva alguém admirado por uma legião de fãs, apaixonado pela mulher e pai de três filhos, a se arriscar num hobby perigoso como o ultraleve? No caso de Herbert, a paixão por voar vem da infância. Ele cresceu vendo o pai, o brigadeiro reformado da Aeronáutica Hermano Vianna, pilotando aviões. Tentou ingressar na Academia da Força Aérea em Barbacena, mas a miopia o impediu. Adulto, não abandonou seu amor pelo céu e tirou brevê há dez anos. O passeio de domingo era uma espécie de apresentação do modelo alemão Fascination à sua mulher, que ainda não havia voado na aeronave comprada em novembro. Assim como o guitarrista, amantes de esportes radicais pouco pensam nas consequências. A emoção, em geral, fala mais alto. Isso não significa que os esportistas sejam irresponsáveis. Pouca gente acredita que o líder dos Paralamas seria capaz de colocar em risco a própria vida e a da esposa em um looping – conforme afirmam testemunhas.

Amigos de Herbert, do Clube Esportivo de Ultraleve, são enfáticos ao descartar a hipótese. “Para o leigo, qualquer manobra parece um looping. Ele era um piloto experiente e sensato”, diz Sérgio Pedra, um dos pioneiros do ultraleve no Brasil e amigo de Herbert desde 1997. Representante do Fascination, foi ele quem trouxe o avião de Fortaleza, onde é montado. Pedra explica que, para realizar acrobacias aéreas, a máquina deve ter motor e carburador especiais. A de Herbert não tinha – e ele sabia disso.

A causa exata da queda da aeronave ainda é desconhecida. A hipótese mais provável, até agora, foi levantada pelo major reformado da Aeronáutica Gustavo Henrique Albrecht, presidente da Associação Brasileira de Ultraleve. Para ele, o músico tentou uma manobra chamada reversão (leia quadro à pág. 76). Albrecht também é severo ao descartar a hipótese de que o vento teria sido responsável pela queda. “Vento nenhum derruba ultraleve”, afirma.

O casal partiu do Clube Esportivo de Ultraleve, em Jacarepaguá, no Rio, pouco antes das duas da tarde. Meia hora depois, chegava ao condomínio de luxo Portobello, onde seria comemorado o aniversário de Fernanda Villa-Lobos, mulher do músico Dado Villa-Lobos, ex-integrante da Legião Urbana e amigo de Herbert. O líder dos Paralamas estava tão satisfeito com a aeronave que planejava viagens com a mulher, aproveitando a volta às aulas dos filhos Luca, oito anos, Hope, cinco, e Phoebe, um ano e meio. Mas a tragédia acabou com os planos. O ultraleve de Herbert afundou em frente ao condomínio, a 50 metros da praia. Lucy morreu na hora.

Renato Velasco
O paraquedista Gui Pádua salta de aviões e prédios: “já abri o reserva 16 vezes”

Herbert foi levado para o Hospital Municipal de Mangaratiba e logo removido para o Copa D’Or, no Rio, onde foi internado com traumatismo craniano e fratura numa das vértebras. Os últimos boletins médicos mostram que as cirurgias foram bem-sucedidas, mas o estado do guitarrista ainda é grave. “Ele tanto pode ter comprometimento motor, de memória ou não guardar sequela alguma”, afirmou o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, chefe da equipe que o acompanha. Talvez a tragédia sirva para mobilizar o inoperante Departamento de Aviação Civil, que deveria estar fiscalizando a atividade. O controle é falho e há vários ultraleves voando sem registro pelo País.

Caso se recupere sem sequelas, Herbert pode se considerar um felizardo. Acidentes como esse não costumam poupar suas vítimas, como aconteceu com o ex-nadador e ator Rômulo Arantes (leia quadro à pág. ao lado). A busca por emoções é tão forte que, apesar dos riscos, poucos deixam de praticar seu hobby. Apresentador do programa sobre pára-quedismo Atmosphera no canal Sportv, o carioca Gui Pádua, 26 anos, exercita sua paixão saltando de aviões e do alto de prédios. “Já tive que abrir o pára-quedas reserva 16 vezes”, lembra Gui. A situação mais perigosa aconteceu em Deadland, na Flórida. “Ocorreu uma pane no pára-quedas principal e eu só consegui abrir o reserva depois de quase um minuto em queda livre”, conta. Apesar do susto, ele não sossega. “Prefiro viver 40 anos intensamente do que 80 em frente à tevê.”

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