Quem assistiu ao Show do milhão do SBT uma vez na vida não precisa de estatística: o maior sonho do brasileiro é a casa própria. Pode ser pequena, pendurada num morro ou na beira de uma rodovia, mas tem que ser própria. A obsessão se justifica: o déficit brasileiro de moradias é, oficialmente, de 5,2 milhões; na vida real, vai de 10 milhões a 12 milhões.

Juntando uma coisa com a outra, o grupo Gerdau, 100 anos de atividades, maior distribuidor de produtos siderúrgicos do País, faturamento de R$ 6,3 bilhões no ano passado, criou um novo negócio com perfil de mina de ouro. Batizado de “casa fácil”, o produto tem um potencial de mercado extraordinário. Aqui dentro e lá fora, onde dois bilhões de pessoas, segundo dados da ONU, vivem em condições abaixo da linha da miséria. A “casa fácil” não vai salvar um mundo no qual mais da metade da população nunca tomou um copo de água limpa, como disse o ex-presidente americano Bill Clinton em sua recente passagem pelo Brasil. Mas pode ser um complemento importante no tripé saúde-educação-moradia de combate à pobreza. É destinada a programas habitacionais para a população com renda de até cinco salários mínimos, que representa 94% do déficit do Brasil.

Quinze prefeituras do Rio de Janeiro e outras 15 de São Paulo já manifestaram interesse pelo produto lançado há apenas um mês. É um kit com perfis de aço laminado que, a partir deste mês, estará à venda nas lojas de materiais de construção por R$ 2.500, com instruções para que se levante o esqueleto da casa em duas horas. Para ficar prontinha, com telhado, paredes e acabamento, vão 21 dias, a um custo estimado entre R$ 6 mil e R$ 8 mil.

A casa básica tem 48 m2, com dez opções de planta e possibilidade de ampliações para 72 m2 ou 96 m2 de área total. “Nossa expectativa é comercializar neste ano dois mil kits em todo o Brasil”, afirma o diretor da área de negócios do grupo Gerdau, Carlos Gerdau Johannpeter, 41 anos. No próximo, ele diz, serão dez mil.

Johannpeter está entusiasmado. Ele nasceu e cresceu na empresa. É filho do principal acionista, Jorge Gerdau Johannpeter, e pai da “casa fácil”. “Nós não podemos construir uma sociedade sem casas”, diz, recorrendo a dados da ONU que indicam que 30% da população brasileira vive em condições de exclusão total. A preocupação social, porém, não significa que um dos maiores grupos do País, com ações na Bolsa de Valores de Nova York, tenha entrado no negócio com ideais beneficentes. O grupo investiu R$ 1,5 milhão num negócio que promete retorno. “É um produto oportuno, com um espaço enorme”, afirma o herdeiro.

Em tempo: ele considera a possibilidade de fazer alguma ação de marketing no Show do milhão, de Silvio Santos.