Na terça-feira 31, a trabalhadora rural Maria Genilda Evangelista, seis filhos, surpreendeu-se quando o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Quixadá, Luiz Henrique de Oliveira, bateu à porta de sua casa de taipa carregando vários pacotes, no vilarejo de Várzea da Onça, no sertão cearense, a 165 quilômetros de Fortaleza. O sindicalista trazia arroz, macarrão, fubá, farinha, leite em pó, café e muita bolacha. A comida veio de longe. Leitores de ISTOÉ nos Estados Unidos ficaram chocados com a reportagem “Tragédia anunciada”, publicada na edição de 11 de julho, sobre a seca no sertão nordestino, que contava o drama de Maria. Ela e os filhos, que vivem na roça, só conseguem alimentos quando vão à cidade e recebem doações. Em Dunedin, Estado da Flórida, um grupo iniciou uma campanha para tentar amenizar o sofrimento de centenas de famílias nordestinas. A iniciativa foi da brasileira Jacqueline Casale, que vive há três anos nos EUA. Depois de ler a reportagem na ISTOÉ Online – versão eletrônica da revista –, ela começou a mobilizar parentes, amigos e vizinhos e deu início à campanha. “Falei com pessoas do Canadá, da Inglaterra e de várias cidades dos Estados Unidos. Já recebemos doações e vamos receber mais”, anima-se Jacqueline, que reservou um espaço na garagem de sua casa para armazenar os donativos. “Desde criança ouço falar da seca. Mas pouco foi feito para mudar essa situação. Fiquei comovida com o sofrimento dessas famílias, como cidadã e como mãe”, diz.

Jacqueline decidiu “adotar” a família de Genilda. Vai enviar mensalmente, através do sindicato de Quixadá, recursos para a compra de três cestas básicas para a lavradora, além de roupas, sapatos e brinquedos. “Para outras famílias, vamos remeter principalmente vestuário ou brinquedos, porque o custo de transporte de alimentos é muito mais caro”, explica Jacqueline. “Sou uma cidadã cumprindo o meu papel. Se cada um fizer um pouco, as coisas podem melhorar”, acredita. Emocionada, Genilda quase não conseguia falar com o sindicalista, que lhe trouxe a ajuda. “Só posso agradecer a Deus e a essas pessoas. As crianças estão fazendo uma festa”, comemora. A reportagem também fez as autoridades apressarem o atendimento às famílias de Quixadá. As cestas básicas que estavam empilhadas em galpões na região foram distribuídas na semana passada. “Temos 70 mil habitantes e recebemos 4.875 cestas. Ainda é pouco, mas antes da reportagem íamos receber 1.200 cestas”, afirma o sindicalista Luís Henrique.