09/01/2015 - 20:00
Sobre as ondas Tom Carroll surfando com
a filha Jenna, em Newport, Austrália, em 2001
Bicampeão mundial de surfe em 1983 e 1984, o australiano Tom Carroll foi o ídolo máximo para uma geração que viu o esporte se profissionalizar. Hoje com 53 anos, permanece lembrado como uma das maiores referências da profissão. Sua trajetória, o sucesso, o vício em drogas e sua superação são contados em “TC”, biografia escrita por seu irmão mais velho, Nick Carroll, um dos mais importantes jornalistas da área no mundo. A história dos irmãos que testemunharam a transformação do surfe de uma ocupação juvenil para um dos grandes esportas radicais do planeta chega agora ao público brasileiro pela editora Rocky Montain.
Em entrevista à ISTOÉ, o escritor, autor de livros como “Fearlessness: The Story Of Lisa Andersen”, sem tradução no Brasil, contou que decidiu contar a história do irmão para colocar luz sobre uma questão devastadora e pouco observada no mundo do surfe: o consumo de drogas.“TC” descreve a vida do atleta desde a infância e tem como ápice seu envolvimento com a cocaína, antes de passar a consumir o “ice” (apelido dado para a metanfetamina). Segundo o jornalista, a compulsão do irmão para o vício era partilhada com muitos colegas do período. “Para alguns surfistas que conheci, a prática do esporte os viciava em adrenalina, e eles acabavam procurando algo que substituísse aquela intensidade”, explica. As drogas, no entanto, são apenas parte de uma história pontuada por passagens luminosas, como a recusa de Tom em participar de uma etapa do campeonato mundial na África do Sul em 1985, em protesto contra o apartheid.
Na mitológica praia de Pipeline, no Havaí, em 1991
Alguns trechos são mais tocantes, como a morte da mãe, quando o esportista tinha apenas 7 anos, e a da irmã, em um acidente de carro em 1988. Em ordem cronológica, a história é narrada alternadamente pelos dois irmãos. Os trechos “escritos” por Tom em primeira pessoa foram baseados em entrevistas colhidas e editadas pelo irmão, que tentou manter a linguagem o mais perto possível de uma descrição oral. “Somos pessoas muito diferentes. Queria que o leitor entendesse todos os aspectos disso e também tivesse uma visão mais aprofundada do que aconteceu”, diz.
“Os surfistas de hoje são muito mais espertos e mais bem aconselhados”, avalia o autor, que foi editor-chefe da californiana Western Empire, que publica a “Surfing Magazine”. Tom Carroll largaria o vício em 2007, passando a dar palestras e a participar de reuniões dos Narcóticos Anônimos em diferentes países. Embora tenha as marcas de uma vida tumultuada estampadas no rosto, preserva a disposição e o bom humor de sempre, e atualmente apresenta o programa de TV “Storm Surfers”, exibido internacionalmente pelo Discovery Channel, em que viaja em busca das ondas mais difíceis de surfar do planeta.
Vitorioso
Capa do livro escrito por Nick Carroll, um mergulho
nos traumas e aspectos mais obscuros da vida do irmão Tom
Fotos: Divulgação