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Sobre as ondas Tom Carroll surfando com
a filha Jenna, em Newport, Austrália, em 2001

Bicampeão mundial de surfe em 1983 e 1984, o australiano Tom Carroll foi o ídolo máximo para uma geração que viu o esporte se profissionalizar. Hoje com 53 anos, permanece lembrado como uma das maiores referências da profissão. Sua trajetória, o sucesso, o vício em drogas e sua superação são contados em “TC”, biografia escrita por seu irmão mais velho, Nick Carroll, um dos mais importantes jornalistas da área no mundo. A história dos irmãos que testemunharam a transformação do surfe de uma ocupação juvenil para um dos grandes esportas radicais do planeta chega agora ao público brasileiro pela editora Rocky Montain.

Em entrevista à ISTOÉ, o escritor, autor de livros como “Fearlessness: The Story Of Lisa Andersen”, sem tradução no Brasil, contou que decidiu contar a história do irmão para colocar luz sobre uma questão devastadora e pouco observada no mundo do surfe: o consumo de drogas.“TC” descreve a vida do atleta desde a infância e tem como ápice seu envolvimento com a cocaína, antes de passar a consumir o “ice” (apelido dado para a metanfetamina). Segundo o jornalista, a compulsão do irmão para o vício era partilhada com muitos colegas do período. “Para alguns surfistas que conheci, a prática do esporte os viciava em adrenalina, e eles acabavam procurando algo que substituísse aquela intensidade”, explica. As drogas, no entanto, são apenas parte de uma história pontuada por passagens luminosas, como a recusa de Tom em participar de uma etapa do campeonato mundial na África do Sul em 1985, em protesto contra o apartheid.

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Na mitológica praia de Pipeline, no Havaí, em 1991

Alguns trechos são mais tocantes, como a morte da mãe, quando o esportista tinha apenas 7 anos, e a da irmã, em um acidente de carro em 1988. Em ordem cronológica, a história é narrada alternadamente pelos dois irmãos. Os trechos “escritos” por Tom em primeira pessoa foram baseados em entrevistas colhidas e editadas pelo irmão, que tentou manter a linguagem o mais perto possível de uma descrição oral. “Somos pessoas muito dife­rentes. Queria que o leitor entendesse todos os aspectos disso e também tivesse uma visão mais aprofundada do que aconteceu”, diz.

“Os surfistas de hoje são muito mais espertos e mais bem aconselhados”, avalia o autor, que foi editor-chefe da californiana Western Empire, que publica a “Surfing Magazine”. Tom Carroll largaria o vício em 2007, passando a dar palestras e a participar de reuniões dos Narcóticos Anônimos em diferentes países. Embora tenha as marcas de uma vida tumultuada estampadas no rosto, preserva a disposição e o bom humor de sempre, e atualmente apresenta o programa de TV “Storm Surfers”, exibido internacionalmente pelo Discovery Channel, em que viaja em busca das ondas mais difíceis de surfar do planeta.

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Vitorioso
Capa do livro escrito por Nick Carroll, um mergulho
nos traumas e aspectos mais obscuros da vida do irmão Tom 

Fotos: Divulgação