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O poder está de dieta e isso não é uma metáfora para o cenário de arrocho financeiro do País. A austeridade está no cardápio e os resultados já podem ser verificados em muitas silhuetas, inclusive na da presidente Dilma Rousseff. De vestido claro, Dilma desfilou na cerimônia de posse, no dia 10 de janeiro, ostentando seis quilos a menos. A proeza foi alcançada em dez dias e, o feito, creditado à dieta Ravenna, método de emagrecimento que alia o corte de farinhas e açúcares a sessões de acompanhamento terapêutico para mudar a relação do paciente com a comida. Dilma foi apresentada ao trabalho do médico argentino Máximo Ravenna (leia entrevista na pág. 46) pela ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci. Quando a amiga apareceu 17 quilos mais magra, a presidente resolveu aderir ao método e logo o indicou para a nova titular da Agricultura, Kátia Abreu. Antes de trazer Dilma para as fileiras de Ravenna, Eleonora já havia passado a corrente para Miriam Belchior, ex-titular do Ministério do Planejamento. E as conversas nas reuniões ministeriais fizeram o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, entrar para o clube, até então exclusivamente feminino no Planalto.

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A presidente fez adaptações para conseguir seguir o método do especialista argentino: ela não poderia frequentar o centro terapêutico nem participar das reuniões de acompanhamento, como fazem os outros pacientes. No seu lugar, então, mandou a chef de cozinha da Presidência para a clínica. Andrea Munhoz conheceu o cardápio Ravenna e o adaptou para Dilma. O consultório, geralmente, oferece pratos prontos congelados para pacientes que queiram levar a comida balanceada em porções de 300 calorias para casa. A presidente não comprou as refeições da clínica, mas sua chef reproduziu o modelo e elaborou as frações. Antes da refeição, a presidente toma um caldo de legumes ralo, bem quente. Aquecer as papilas gustativas é uma técnica que o médico usa para dar ao paciente à sensação de saciedade antes de consumir o prato principal. A dieta de Dilma revolucionou as compras do governo. As despensas das copas do Palácio do Planalto foram abastecidas, nas últimas semanas de dezembro, com gelatinas diet, barras de cereal sem glúten, água de coco, chá-verde e castanhas. Esses produtos são os lanchinhos intermediários que a presidente come entre as quatro refeições. A chef de Dilma tem de usar a criatividade para inventar pratos, pois o método do argentino proíbe alimentos à base de farinhas refinadas e controla as carnes, permitindo apenas proteínas com pouco teor de gordura. Convidada pela equipe do consultório de Brasília a aderir à dieta junto com a chefe do Executivo, Andrea Munhoz preferiu manter o próprio cardápio.

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A inserção de um novo método na rotina presidencial tirou as funções da nutricionista oficial da Presidência. A alimentação do chefe de Estado sempre foi uma responsabilidade de funcionários das Forças Armadas. A nutricionista oficial do Palácio da Alvorada é a capitã de fragata Luisa da Costa. Geralmente, os profissionais são orientados a oferecer pratos de até 1.800 calorias para os presidentes e familiares. Na dieta Ravenna, Dilma é submetida a 900 calorias diárias. Por enquanto, a petista anda empolgada com os resultados. Mas ela não está seguindo um princípio básico do método, que é o acompanhamento terapêutico. O tratamento é conhecido por ajudar o paciente a manter o peso, não só a perder os excessos. Apesar da propaganda positiva que a clínica teve com a redução das medidas da presidente do País, sócios temem que, se ela não se dedicar ao tratamento integral e voltar a engordar, o marketing possa ter efeito contrário.

A febre Ravenna tem dado trabalho para outras equipes de copa da Esplanada. Ministros que costumavam sair para almoçar agora têm como hábito pedir a refeição no gabinete para não fugir da dieta. Entre eles está José Eduardo Cardozo, da Justiça, que perdeu cinco quilos com o método, mas tem objetivos ambiciosos de afinar pelo menos 22. Cardozo diz estar reduzindo a agenda de almoços políticos para não cair em tentação. Kátia Abreu, da Agricultura, não teve a disciplina necessária e comeu de tudo nas festas de fim de ano. Ela chegou a perder quatro quilos em pouco mais de uma semana, pois queria ficar bem no vestido de noiva que usará em sua cerimônia de casamento no próximo mês. Mas a nova ministra afirma que, depois dos abusos do fim de ano, voltou ao cardápio light.

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Quem introduziu Ravenna no meio político foi a deputada federal Erika Kokay (PT-DF). Em abril de 2010, ela sofreu um infarto. Após deixar o hospital e voltar à rotina, seu cardiologista lhe deu um puxão de orelha: ela precisava emagrecer. Com sobrepeso e complicações cardíacas, o médico recomendou uma dieta que não utilizasse medicamentos. Assim, ela conheceu o consultório de Ravenna. “Fui eu quem indicou o método para a Eleonora. Em dezembro de 2013, fui a uma reunião com a ministra e ela me perguntou o que eu havia feito para emagrecer. Eu perdi 24 quilos”, diz Erika.

No Congresso, a dieta do especialista argentino criou uma espécie de “frente parlamentar Ravenna”. Pelo menos 15 deputados da base governista e da oposição estão unidos no objetivo de emagrecer. Nos dias de intensos debates e votações, alguns deputados levam comida saudável congelada em vez de almoçar nos restaurantes do Parlamento. Um exemplo é a deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), que perdeu 12 quilos. Sua colega de partido Alice Portugal (PCdoB-BA) foi uma das primeiras a conhecer o sistema de emagrecimento, que faz sucesso com celebridades da música da Bahia desde 2010. Ela foi à clínica para apoiar sua filha e também entrou na dieta. A jovem perdeu 37 quilos e se tornou uma atleta amadora e a deputada deixou para trás 13 quilos. “A vida parlamentar engorda, não tem um restaurante no Congresso que ofereça comida mais saudável, é uma vida sem regra. Parei durante a campanha, mas, assim que eu puder, volto para o Ravenna”, afirma Alice.

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Entre os parlamentares que conheceram o método por meio de Alice está o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). Ele perdeu seis quilos em dez dias, mas tem sofrido com a quantidade de reuniões políticas que envolvem comida e bebida. Como precisa acompanhar os colegas, em vez de degustar um bom vinho, ele enche a taça com refrigerante diet. De olho nas autoridades que estão sempre em jantares por Brasília, os restaurantes passaram a oferecer cardápio específico para os adeptos de Ravenna. O Dali Camões, o Lakes e a pizzaria Santa Pizza, todos frequentados pelas esferas de poder, são exemplos. Mesmo os lugares que ainda não têm parceria com a clínica já estão em sintonia com o sucesso da dieta na cúpula política de Brasília. Nos restaurantes estrelados da capital, os garçons estão habituados a pedir adaptações nos pratos, quando o cliente informa que está em tratamento. Além de ser uma dieta, o método Ravenna está se tornando um modo de comer. O ex-ministro da Secretaria de Aviação Civil Moreira Franco nunca viu o ponteiro da balança disparar. Ainda assim, ele usa o cardápio do médico argentino quando sai para comer em Brasília.

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A fórmula é antiga: uma dieta de baixíssimas calorias que exclui alimentos engordativos, gordurosos ou que possam disparar o apetite, como os carboidratos refinados. Não entram pães, macarrão e arroz, nem integrais. É feito, ainda, um plano de exercícios e agendadas consultas com médicos, nutricionistas, educadores físicos e psicólogos. Ainda assim, nada de revolucionário. Por que, então, a dieta Ravenna é a bola da vez da perda de peso? “O grande diferencial é uma excelente estrutura de marketing”, afirma a endocrinologista Cintia Cercato, integrante do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). Na opinião de Cintia, o método tem vários pontos a favor, por seguir preceitos amplamente difundidos na literatura médica sobre metabolismo e perda de peso, como o baixo consumo de calorias e exclusão de alguns tipos de carboidratos. Mas salienta que é preciso acompanhamento para que um cardápio tão restrito não signifique falta de nutrientes.

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O médico e psicoterapeuta argentino Máximo Ravenna começou sua trajetória de sucesso em 1993, ao abrir a primeira clínica em Buenos Aires. Lá, teve entre os clientes famosos o ex-jogador Diego Maradona. Mas só em 2009 fundou uma clínica no Brasil, primeiro em Salvador. Um ano depois, já fincava base em São Paulo. Na lista de pacientes da capital paulista está a empresária Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza. Apresentada ao método pela filha, resolveu frequentar a clínica. “Assistência prestada e serviços realizados fizeram eu me adaptar bem”, diz Luiza, que perdeu 23 quilos em um ano. Também passou por lá Mariana Belém, filha da cantora Fafá de Belém, que contabilizou 15 quilos a menos em três meses e meio. Em 2012, a marca pousava também em Brasília, mas mesmo antes já se ouvia o nome do médico entre os parlamentares.

Apesar do cardápio restrito, a nutricionista do centro terapêutico do dr. Ravenna em São Paulo, Thais Shibuia, salienta que não se trata de uma dieta de proteínas, que tem como arauto o médico Pierre Dukan. “Além disso, muitos alimentos são cortados apenas na fase do ‘descenso’, ou seja, até o paciente perder os quilos que precisa”, diz Thais. Na primeira etapa, não adianta chiar. É preciso seguir à risca as orientações e, se pedir para aumentar a quantidade de alimentos, o paciente provavelmente será encaminhado para a psicóloga para entender o porquê dessa necessidade. O lema geral é “emagreceu, o peso desceu”.

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O próprio Ravenna vem ao Brasil, de duas a três vezes por ano, para fazer palestras em seus centros. O médico se orgulha de não incluir remédios nem cirurgias nos tratamentos. Para a endocrinologista Maria Edna de Melo, membro de entidades como The Endocrine Society, dos Estados Unidos, e Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), por ser uma doença, a obesidade não pode ser tratada apenas pelo seu caráter comportamental. “Pode ser que a questão psicológica seja o fator principal para alguns, mas não se pode generalizar”, afirma. Cintia Cercato, da Abeso, concorda. “A obesidade é colocada como se fosse um problema puramente psicológico e como pesquisadora posso dizer que não é. Há mais de 250 genes envolvidos na fisiopatologia da doença”, diz. “No tratamento, é preciso mudar os hábitos de vida, mas há situações em que focar só no comportamento não funciona.”

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Alguns especialistas afirmam que o grande trunfo do Ravenna é unir todas as atividades em um mesmo centro, chamado pelos pacientes de “clube” (leia mais sobre o método na pág. 44). Ele concebeu uma mistura de spa com Vigilantes do Peso, já que, além de todo o acompanhamento médico e nutricional, conta ainda com atendimento psicológico e grupos terapêuticos para que os clientes dividam suas experiências. É prático – quem pode, passa o dia lá: toma o café da manhã no restaurante, depois pode ir para um grupo e, ao fim dessa segunda atividade, vai para a sala de ginástica se exercitar. Se tiver alguma consulta, pode esperar pelo almoço e ficar até o jantar. O pacote para ter acesso a esse clube da saúde é de R$ 1.570 para adultos. No preço não estão incluídas refeições, que, além de serem servidas no local, também são vendidas congeladas. “O método está famoso porque é a bola da vez. Aí muitos seguem, têm bons resultados, e outras pessoas vão atrás”, afirma Walmir Coutinho, presidente da Federação Mundial de Obesidade. “Daqui a um tempo, vai aparecer outra dieta para ocupar esse lugar.” Mas até lá a marca de 120 toneladas perdidas pelos pacientes do Ravenna até hoje só aumentará – com uma contribuição de peso vinda de Brasília.

“Muitos políticos têm vergonha de se cuidar”

Aos 76 anos, o médico argentino Máximo Ravenna possui clínicas em cinco países – Argentina, Brasil, Espanha, Paraguai e Uruguai – e tem entre seus clientes artistas, empresários e políticos, muitos deles brasileiros.

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ISTOÉ – Nos últimos meses, autoridades brasileiras têm atribuído o afinamento da silhueta à adesão ao método Ravenna. O sr. sempre atendeu políticos?
Dr. Máximo Ravenna
– Sempre atendi políticos. São pessoas que vivem distraídas e ocupadas com sua função e acabam ganhando peso. Muitos ainda têm vergonha de se cuidar, mas eles têm uma imagem pública.

ISTOÉ – Pessoas com rotina profissional muito estressante têm mais facilidade para engordar?
Dr. Ravenna –
Sim, porque têm mais tendência a acumular cortisol e ter desequilíbrios na liberação do hormônio insulina.

ISTOÉ – Por que o método do sr. favorece a manutenção do peso?
Dr. Ravenna
– Uma pessoa gorda sabe emagrecer e engordar, mas não sabe manter. E isso não é bom. No nosso método temos o lema do abandono de alimentos que dificultam o emagrecimento, como as farinhas e o açúcar, e isso exige atenção plena.


ISTOÉ – Como funciona o tratamento psicológico do paciente?
Dr. Ravenna
– A reprogramação mental é a base do tratamento. É a partir do conhecimento profundo de cada um, da consciência do que significa o alimento, que o paciente vai perder e manter o peso. As pessoas vão se pesando dia a dia, perdendo peso e nós acompanhamos como ela está emocionalmente.

ISTOÉ – Inibidores de apetite funcionam?
Dr. Ravenna
– Nós achamos que fazem mal, pois produzem pequenos resultados, praticamente imperceptíveis. Os remédios podem causar transtornos emocionais.

ISTOÉ – Os adoçantes são aliados ou vilões?
Dr. Ravenna –
Adoçantes não naturais podem trazer problemas ao organismo, mas ainda não se sabe bem as enfermidades que podem causar. E podem ter efeito no pâncreas, na produção de insulina: a pessoa tem sensação de fome, mas não lhe falta nada.

ISTOÉ – O sr. aprova dietas que cortam o glúten e derivados do leite?
Dr. Ravenna –
A eliminação do glúten, em certa linha de trabalho responsável, se dá pelo grande número de enfermidades digestivas e metabólicas que ele provoca. E nós não aplicamos de forma drástica a redução dos lácteos. Não vamos nos transformar em fundamentalistas. Nosso mecanismo de trabalho é que a pessoa deve estar bem nutrida.

Fotos: Pedro Ladeira/Folhapress; Adriano Machado/ag.istoé; Ronaldo de Oliveira/cb/d.a press; Divulgação; Arquivo Pessoal; Pedro Dias/ag. istoé 


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