Pintou uma pedra considerável no caminho de Alan Greenspan, o presidente do banco central americano, atualmente às voltas com a difícil tarefa de pilotar o desaquecimento da maior economia do mundo. O problema mais recente de Greenspan atende pelo nome de inflação – uma alta em janeiro de 1,1% e de 0,6%, respectivamente, no atacado (nos produtos para lojas, indústrias e fazendas, por exemplo) e nos preços pagos pelos consumidores. Foi o dobro do aumento esperado pelos analistas econômicos, e o suficiente para derrubar as principais Bolsas de Valores do mundo. No Brasil, mais significativo que a queda das ações foi o nervosismo vivido pelo mercado de câmbio, com a cotação do dólar comercial subindo para R$ 2,044 na quarta-feira 21, dia em que saiu o segundo indicador de preços americano.

A reação dos investidores tem razão de ser. Até duas semanas atrás, as notícias que chegavam dos Estados Unidos mostravam uma economia à beira da recessão. Demissões em massa, atividade industrial em queda e desconfiança dos americanos no futuro econômico do país. O quadro indicava que os vários meses de juros altos, ministrados por Greenspan para evitar a inflação, estavam dando resultado. Quando, em janeiro, ele reduziu os juros duas vezes seguidas, baixando a uma taxa anual de 6,5% para 5,5%, o mercado entendeu que o risco de uma recessão levara-o a agir rapidamente. “Não fosse a inflação, o caminho a seguir era claro: reduzir ainda mais os juros para evitar a recessão. Agora, a situação é muito diferente”, diz o economista Ricardo Carneiro, professor do Instituto de Economia da Unicamp.

O economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), concorda com a análise e acrescenta: “O Fed caiu na armadilha dos juros. Se baixar suas taxas, poderá provocar mais inflação, em compensação, facilitará a vida das empresas. Caso eleve os juros para evitar a inflação, aprofundará a recessão.”

O final dessa novela poderá ser bastante desagradável para o Brasil, avaliam os economistas, como mostraram os solavancos do dólar. Em momento de turbulência financeira, os investidores preferem fugir do risco que representam os países altamente endividados. No caso brasileiro, o principal termômetro dessa área tem tido um comportamento nada animador: o déficit do País em suas transações com o Exterior é de 4,5% do PIB (Produto Interno Bruto), igual ao do momento anterior à crise cambial de 1999. Se a inflação continuar alta por lá, os juros por aqui dificilmente voltarão a cair nos próximos meses, e podem mesmo ter de subir para atrair investimentos estrangeiros e fechar as contas do País.