Não se fazem mais homens como antigamente. Pelo menos no que se refere ao jeito de encarar a gravidez. Ainda bem. Se há cerca de três décadas eram poucos os maridos que se dispunham a acompanhar com maior interesse a gestação da mulher, hoje a situação se inverteu. Nos consultórios particulares, a maior parte dos futuros pais já comparece às consultas do pré-natal e raramente deixa escapar a oportunidade de presenciar e até auxiliar o nascimento do bebê dentro da sala de parto. Essa idéia é incentivada por um número cada vez maior de obstetras e ginecologistas e tem reflexos na saúde. Diversos estudos indicam que o apoio emocional do companheiro ou de uma pessoa próxima durante o trabalho de parto e o nascimento tranquiliza a gestante. E há evidências de que a presença de alguém tão especial contribui para diminuir o número de cesáreas (a mulher se sente mais segura para enfrentar um trabalho de parto normal e, além disso, tem a seu lado alguém atento à qualidade do atendimento), a intensidade da dor e a quantidade de anestésicos. Também influi na vida do casal e da família. “Estar presente de corpo e alma no nascimento é uma forma de estimular o vínculo emocional do pai com o bebê desde o primeiro momento”, afirma o obstetra e ginecologista Thomas Gollop, da Universidade de São Paulo.

Hélcio Nagazine
Verlangieri acompanhou todas as etapas da gravidez da mulher, Ana Paula, e do nascimento da filha Sophia

Para acolher esses maridos mais participativos, diversos hospitais privados ampliaram suas instalações destinadas ao parto. No Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, por exemplo, o pai é convidado a dar o primeiro banho no bebê em uma banheira especial. Além disso, há uma sala com janelas de onde familiares convidados pela gestante podem acompanhar a cena. Outra novidade são os quartos de parto. Eles são equipados com camas que se transformam em mesas de cirurgia e em condições de receber os familiares. A técnica visa simular o parto em domicílio. Também há uma banheira de hidromassagem para que a mulher relaxe durante o trabalho de parto. Chamado de PPP (Pré-Parto, Parto e Pós-Parto), esse modelo é usado em países como o Japão e Holanda com o objetivo de diminuir as cesáreas.

Cuidados – Os homens que auxiliam o parto sentem uma emoção profunda e inesquecível. “Não há como descrever a experiência de pegar nos braços a filha que acaba de nascer”, diz o veterano César Valle Verlangieri, 39 anos. Na sexta-feira 16, ele entrou pela segunda vez numa sala de parto junto com a esposa, Ana Paula, para acompanhar o nascimento da filha Sophia. “Sempre fui apaixonado por crianças, mas descobri como é bom cuidar delas desde que nascem. Não sei como um pai pode achar que conhece os filhos se não tiver esse convívio, que é muito rico, desde as primeiras fases da vida”, diz Verlangieri. Comovido, ele ficou ao lado da mulher o tempo todo. Desta vez, mais corajoso, quis ver detalhes da cirurgia. Assistiu à filha ser retirada do útero e logo em seguida pegou Sophia nos braços para banhá-la com todo o cuidado. Depois, terminou a higiene da bebê e a entregou para a mãe. Ele sabe que ainda é exceção à regra. Executivo do mercado financeiro, divide com prazer as responsabilidades com a filha mais velha, Beatriz, desde a matrícula na escola até as brincadeiras no final da tarde. A esposa, Ana Paula, chefe da área jurídica de um banco alemão, ficou surpresa com a consciência e solidariedade do marido. “Sabia que ele ajudaria, mas nunca imaginei que seria de uma forma tão plena”, afirma.