Se um dia você deparar com um grupo de japoneses tocando, e muito bem, cavaquinho e repique e cantando pérolas do samba de raiz em português, não se preocupe: você não está tendo uma visão. Trata-se do grupo Balança mas não cai, composto por cinco japoneses de Tóquio apaixonados pelo ritmo. Eles só tocam samba e pagode e até já gravaram dois discos, Feijoada com sushi e o mesmo na versão em japonês. “Muita gente duvida quando dizemos que somos sambistas”, diz Yukihiro Sakasegawa, mais conhecido como Den, 31 anos, que toca cavaquinho. As mesmas pessoas costumam ficar de queixo caído quando os japoneses sacam seus instrumentos. Em show organizado pela Mangueira para promover o Carnaval da escola no Rio e em São Paulo, nos dias 12 e 13, eles entraram em cena depois do sempre esperado Chico Buarque e não deixaram a peteca cair. A platéia ficou boquiaberta com a performance mais do que convincente do quinteto.

Carlos Magno
… franceses entram na batucada …

O que hoje é a profissão dos rapazes começou como brincadeira, quando Den entrou na faculdade, aos 18 anos. Ele estudava línguas e começou a aprender português. Daí para descobrir a cultura brasileira foi um pulo. Aos 19, conheceu o cavaquinho. Depois, se juntou ao grupo que se apresenta para platéias de japoneses e brasileiros. “A música do Brasil é muito diferente. Foi preciso muito tempo para aprendermos a tocar”, afirma Den. Formar o grupo não foi a única ousadia: eles criaram também a Escola de Samba Saúde, de Tóquio, onde costumam desfilar no Carnaval japonês, se é que ele existe. A escola é afilhada da Mangueira. Nos shows da verde-e-rosa, imagens de vídeo comprovaram a façanha de passistas e ritmistas orientais nas ruas de Tóquio. O grupo visita pela quinta vez o Brasil. “Conhecemos alguns dos bambas pessoalmente, como Ivone Lara e Monarco”, deslumbra-se Den, que desfilou na Mangueira em 1999. O grupo fará shows em março para lançar o CD no Brasil, com um repertório que passa por Cartola e Paulinho da Viola.