fotos: divulgação/tv globo
LETÍCIA indo ao encontro de Iemanjá.

O mundo das novelas é mesmo engraçado. Na célebre O bem-amado, de Dias Gomes, primeiro folhetim em cores exibido no Brasil, o coronel Odorico Paraguaçu, papel do falecido Paulo Gracindo, atravessou toda a trama em busca de um cadáver para inaugurar o cemitério da fictícia Sucupira. Se por acaso Odorico reaparecesse como prefeito da também fictícia Porto dos Milagres – cidade que batiza a nova novela das oito da Rede Globo –, ele estaria com seus problemas resolvidos. Nos dez capítulos iniciais da história assinada por Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares morreram nada menos que oito personagens em circunstâncias variadas. Bartolomeu Guerreiro foi envenenado por Adma (Cássia Kiss), mulher de seu ambicioso irmão gêmeo Felix, papel duplo de Antonio Fagundes. Leôncio (Tuca Andrada) e Laura (Carolina Kasting) sumiram do mapa na explosão de um barco, provocada pela polícia que os perseguia. O coronel Jurandir (Reginaldo Farias) acabou morto por um tiro da espingarda de Rosa Palmeirão (Luiza Tomé) – ele estuprou sua irmã Cecília (Luiza Curvo), que, ultrajada, se enforcou. Arlete (Letícia Sabatella), prestes a ser assassinada a mando da pérfida Adma, também se suicida jogando-se no mar. Eulália (Cristiana Oliveira) teve uma morte não premeditada. Faleceu após o parto e, fazendo jus aos toques de realismo fantástico e de religiosidade que marcam a trama, abertamente inspirada no universo de Jorge Amado, surgiu na forma de Iemanjá para buscar o marido Frederico (Maurício Mattar), que sumiu nas águas salgadas durante uma tempestade.

FARIAS e o casal Andrada e Carolina:tiro de espingarda e explosão   FAGUNDES na pele de Bartolomeu:envenenado pela cunhada

 

A mortandade, na verdade, deu agilidade à história, que, de acordo com Linhares, nestes primeiros capítulos ganhou o formato proposital de minissérie. “Tudo aconteceu muito rápido para os telespectadores não se acostumarem com os personagens”, justifica ele. A novela foi escrita como uma saga e os capítulos iniciais tinham a função de explicar o nascimento do casal de protagonistas. No caso, Guma – o heróico pescador vivido por Marcos Palmeira – e Lívia (Flavia Alessandra). Na segunda fase, que já se iniciou, deve haver menos tragédias e mais humor. Neste quesito, a ricaça Augusta Eugênia de Proença de Assunção, de Arlete Salles – que está dando um banho de interpretação –, promete render momentos ainda mais divertidos, principalmente depois de enfrentar a decadência sem perder a pose. Por enquanto, Porto dos milagres se mantém em índices de audiência apenas satisfatórios, oscilando entre 40 e 45 pontos, similares à média inicial da lacrimosa Laços de família. Intensa em sua trama ágil e intrincada, espera-se que Porto dos milagres conquiste de vez o público. Criatividade e ação, ao que tudo indica, não vão faltar.