Dragões vermelhos balançando como balões de fumaça nos céus asiáticos. Essa visão alucinógena é a promessa dos mercadores de ópio do Laos, país que virou moda para os aventureiros ocidentais. Para alguns jovens mochileiros, a maior parte proveniente da Europa, do Canadá e dos Estados Unidos, a verdadeira viagem é participar desse ritual exótico. “É realmente uma coisa dos bruxos a maneira como a gente se deita e traga o cachimbo de bambu. Você se sente como se estivesse fazendo parte de uma sociedade secreta”, disse a inglesa Sophie, de 20 anos.

Assim como Sophie, o inglês Jonathan chegou ao Laos passando antes pela Tailândia. Eles atravessam a fronteira, pedindo carona em caminhões a diesel ou pegando ônibus não muito diferentes dos do interior do Brasil, nos quais também são passageiros as galinhas e os porcos. Da capital Vientiane até chegar à cidade de Vang Viang, no centro do Laos, viajaram cerca de seis horas. Vang Viang é um vilarejo rural, de 20 mil habitantes, que teve que se adaptar ao novo fluxo de turistas e à fumaça que eles fazem. Em 1999, havia apenas três pensões. Hoje, elas são 35 e o prefeito Phet Hinthapatha prevê, empolgado, que o crescimento será de 100% ao ano. Para atender a nova onda de fumadores de ópio, os moradores se abastecem. “Comida, camisetas, mochilas, papel higiênico e coisas estranhas. Os estrangeiros gostam de coisas muito estranhas…”, afirma o prefeito, enrolado em um sarongue – uma espécie de canga –, negando que ali se venda ópio.

Para as mamães e papais lá longe no Ocidente, os jovens não comentam sobre essas coisas estranhas e apenas relatam as maravilhas dos templos budistas, as trilhas pelas montanhas Chiang Mai ou os passeios de barco pelas águas do rio Mekong. “Dá para caminhar pelas montanhas, explorar uma caverna e ainda dar umas tragadinhas, que podem ser até dentro do seu próprio quarto”, confessa o italiano David Constantino, 22 anos. Tanto o ópio como a maconha, também muito procurada pelos jovens, são ilegais no Laos, mas a polícia faz vista grossa. O grande barato para os turistas como Sophie, que nunca havia experimentado a droga, é entrar neste mundo místico do Laos, país que veio abrir as portas para os curiosos ocidentais apenas nos anos 90, e, mesmo sob as cortinas do regime comunista, conseguiu manter seus costumes.

Para os laosianos, fumar ópio faz parte de uma tradição milenar, mas ainda é uma raridade no Ocidente. A escassez da droga contribuiu para esse clima de mistério. Das cinco mil toneladas de ópio produzidas anualmente no mundo, 99% transformam-se no lucrativo mercado da heroína. Segundo as revistas Vanity Fair e Arena e um documentário produzido no Japão, é chique fumar ópio no Laos, onde uma pequena quantidade é vendida pela bagatela de US$ 20. Originário da Ásia Menor, o ópio foi levado ao sul da Ásia pela primeira vez, provavelmente, na Idade Média. Para a Grã-Bretanha e França, países que colonizaram a região, permaneceu como uma raridade até o século XIX. Os britânicos foram à guerra por três vezes para obrigar a China a levantar as restrições ao comércio do ópio. A droga também se tornou coqueluche de intelectuais românticos, como o poeta francês Charles Baudelaire. No filme Indochina, de 1992, a bela Catherine Deneuve, uma fazendeira de seringais, entrega-se aos prazeres do ópio.