01/08/2001 - 10:00
Depois de um ano e dez meses de canseira e uma série de embates perdidos para a equipe econômica, o ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, jogou a toalha. Entregou o cargo na terça-feira 24, derrotado nas suas principais bandeiras: uma reforma tributária mais ampla e um pacote de redução de impostos para estimular as exportações. A primeira jamais saiu do papel. A segunda – a compensação do custo de tributos embutido na cadeia produtiva de bens destinados à exportação – saiu pela metade, após um ano de discussão. Anunciada há 20 dias, a desoneração das exportações ficou menor do que queria Tápias. Nos dois casos, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, respaldado pelo secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, deu a palavra final, sempre contrária a qualquer medida que coloque a arrecadação de impostos em risco. O substituto de Tápias, o embaixador Sérgio Amaral, é conciliador, tem grande afinidade com a área econômica e é amigo de Malan. Diplomaticamente, anunciou que o aumento das exportações é prioridade, mas sem jamais contrariar o colega da Fazenda. “Não farei nada incompatível com o equilíbrio macroeconômico, que é a condição de tudo”, declarou na quarta-feira 25, ainda em Londres, antes de embarcar para Brasília. Diz que pretende contar com “um pouquinho mais de generosidade” da equipe econômica. Com a escolha de Amaral, o recado de Fernando Henrique foi eloquente: abandona as aspirações desenvolvimentistas que alimentaram a criação do Ministério, em 1998. A tendência da pasta é tornar-se uma espécie de agência de promoção comercial.
Tápias entregou a carta de demissão no dia 7 de junho, mas o texto estava pronto há um mês. Agastado com mais uma pendenga com a equipe de Malan, desta vez em torno da redução das tarifas de importação para bens de informática e telecomunicações, o ministro trancou-se no banheiro do seu gabinete em São Paulo, no 13º andar do prédio que abriga o escritório do BNDES, e, com uma máquina de escrever portátil no colo, batucou a carta. Era uma crise crônica. Um mês antes, a Argentina havia zerado os impostos para esses produtos, aplicando um duro golpe na indústria brasileira. Tápias se exasperou ao se convencer de que, nos bastidores, enfrentava a resistência de dois colegas no seu esforço para proteger os fabricantes nacionais: Malan e Pedro Parente, ministro-chefe da Casa Civil. Tápias só não entregou imediatamente o cargo por temer que sua saída fosse associada à crise de energia, que acabava de estourar. A situação do ministro já era complicada desde o seu primeiro pedido de demissão em novembro, depois de um bate-boca com Everardo Maciel. A cada crise, sua diabete fugia do controle. Demissionário, Tápias ainda esperou mais 40 dias até que o presidente encontrasse um substituto. Antes de convidar Sérgio Amaral, FHC chegou a sondar um empresário paulista.
O ex-porta-voz de FHC foi recebido pelo empresariado com desconfiança. O presidente da Confederação Nacional da Indústria, deputado Moreira Ferreira (PFL-SP), declarou sua preferência por Tápias. “Sérgio Amaral é mais afinado com a equipe econômica do que com o setor produtivo”, justificou. A Fiesp divulgou uma dura nota lamentando a saída do ministro. Já a CUT foi mais agressiva. “As decisões sobre a política econômica do País dependem só do Malan. Tanto faz Tápias ou Sérgio Amaral”, atacou o presidente da central, João Felício. O problema é que em um cenário de retração econômica, corte de gastos e juros altos não há espaço para incentivos à produção com benefícios fiscais. Sérgio Amaral já avisou que os exportadores terão que se contentar com o espaço aberto pela desvalorização cambial. A esperança é que, com a experiência na corte brasiliense e proximidade com FHC, o embaixador consiga tocar alguns projetos.