Um sopro de nostalgia está varrendo a moda. E não é só pelas bolsas em forma de Cadillac, lançadas pela Dior, ou pelas peças de vestuário estilo anos 40, que se multiplicam nas lojas. Em Nova York, duas grifes emergentes estão ganhando fama por fazer as socialites e celebridades usarem roupa velha. Ou melhor, garimpada em brechó e depois atualizada. É a chamada moda vintage, adjetivo referente a uma boa safra de vinho e também a objetos antigos, de qualidade, portanto duradouros. Como expoentes, a jovem e já badalada Imitation of Christ e o estilista Geová Rodrigues, nascido em Barcelona, cidade do Rio Grande do Norte, e radicado em Nova York. Bradando contra a ditadura das grandes marcas – ou simplesmente trabalhando com material usado, por falta de dinheiro – as grifes de moda reciclada estão ditando tendência.

O brasileiro Geová Rodrigues, 37 anos, é artista plástico e vive há 11 entre a França e os Estados Unidos. Em 1998, ao receber como pagamento por uma tela uma máquina de costura, decidiu virar estilista. Ele garimpa roupas usadas de grifes do bairro nova-iorquino de East Village, onde mora, e com elas constrói novas peças. “Toda terça-feira e quinta-feira, ateliês jogam fora o que não serve mais. Pego uma calça, transformo em casaco e assim por diante”, diz. Numa dessas transformações, Geová cortou uma calça de couro e fez um biquíni para uma reportagem de moda com Gisele Bündchen. “Da joelheira, que tem o formato do seio, fiz um bustiê”, conta. Feitas à mão, com acabamento trash, suas peças ganharam fama no meio alternativo nova-iorquino. Uma roupa com sua marca custa de US$ 85 a US$ 1,2 mil. “Quem compra se sente especial, pois ninguém tem nada parecido”, diz.

Exclusividade – De fato, o trunfo das roupas vintage é a exclusividade. Os modelos da grife Imitation of Christ, dos estilistas americanos Matthew Damhave e Tara Subkoff, chegam a valer de US$ 200 a US$ 10 mil. Eles afirmam estar em guerra contra a ditadura Gucci-Prada e por isso costuram à mão, com um único molde, a partir de pedaços de tecido encontrados em brechós e no Exército da Salvação. Em recente passagem pelo País, a dupla foi até a rua 25 de Março e à loja Pernambucanas, em São Paulo, procurar matéria-prima. “Usamos renda e refugos, seja para criar roupas leves, seja para enfeitar uma jaqueta de couro”, afirma Tara. Com um vestido de seda preto, com renda de calais trespassada, avaliado em R$ 4 mil, a paulistana Manoela Furlan Monegaglia, 25 anos, diz que adora o jeito como a dupla resgata roupas esquecidas. Ela conheceu a Imitation of Christ em Nova York e se tornou cliente da loja Andrea Bilinski, representante da marca no Brasil. “Meus amigos perguntam se ando assaltando o armário da vovó, mas não ligo. Sinto-me bem vestida e diferente ”, afirma.

Em São Paulo, a moda vintage atrai famosos como Dinho Ouro Preto e Kid Vinil à loja Doc Dog, nos Jardins. Calças Levi’s antigas e rasgadas (R$ 207) são vendidas como relíquias. A proprietária, Thaís Pereira, compra peças usadas em saldos de grandes marcas dos Estados Unidos e da Europa. Com a ajuda de uma artista plástica, cria moletons com aplicações (R$ 60) e jeans com tachinhas, cristais e grafite (R$ 336). A peça mais cara é uma jaqueta reciclada com mangas de quimono (R$ 875).

“Se for uma peça de estilo, as pessoas compram, mesmo que esteja se desintegrando”, comenta. Amante do estilo anos 70, Tathiana Mancini, apresentadora do Erótica, da MTV, montou a sua própria grife vintage, a Três Marias. A loja vende camisetas picotadas (R$ 58) e vestidos de retalhos e couro (R$ 440). “Minha roupa é 70% artesanal: ponho camurça, pinto, retalho. Cada peça sai de um jeito, exclusiva”, diz. Estranha aos olhos de quem gosta de roupas com cheiro de novas, a moda vintage é para os mais descolados. “Eles gostam de usar roupa que tenha história, mesmo que não saibam exatamente que história é essa”, explica Anna Levak, da revista americana Harper’s Bazaar.