Montagem sobre fotos de Alex Soletto

O saldo positivo da balança comercial — de US$ 80 milhões, em fevereiro, divulgado na semana passada — trouxe alento ao mercado, mas não afastou totalmente as preocupações no horizonte. A alta expressiva do dólar comercial no mês de fevereiro, embalada pela crise cambial da Turquia e indicadores ruins que chegaram dos EUA, deu um susto e tanto. Na ponta do lápis, a valorização da moeda americana no Brasil foi de 3,75% no mês, quando o esperado para o todo o ano é uma alta do dólar em relação ao real de cerca de 7%.

Depois dos solavancos financeiros do México, entre 1994 e 1995, da Ásia, em 1997, e da Rússia, em 1998, o mercado ficou ressabiado. Desde o segundo semestre de 2000, era consenso que este ano não seria nada fácil para a economia brasileira. O humor do mercado financeiro nacional iria oscilar – previam empresários e economistas – ao sabor das notícias que viessem de fora. Principalmente dos Estados Unidos, que, depois da euforia de consumo e ações supervalorizadas dos anos 90, têm agora de pisar no freio, o que, em bom português, significará mais desemprego, lucros menores (ou mais prejuízo) para indústrias e bancos, e Bolsas de Valores em queda. Como se trata da maior economia do mundo, a desaceleração americana traria problemas para quase todos. De acordo com as cartilhas de teoria econômica, a intensidade do tranco deverá ser maior para os países mais endividados em dólar – em especial, para as economias com uma parcela considerável de dívida de curto prazo, ou seja, com vencimento em no máximo um ano.

A questão aí é que a economia brasileira ainda não completou o seu dever de casa, conforme o jargão econômico: depende em demasia de empréstimos externos para fechar suas contas e as exportações deste ano não deverão ser nenhuma maravilha.

Com o mercado de compra e venda de dólares movimentado pelos acontecimentos dos últimos dias, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, em entrevista ao jornal Valor Econômico publicada na Quarta-feira de Cinzas, afirmou que os mercados exageravam no pessimismo. A situação externa é conturbada, argumentou Fraga, mas é possível administrar seus desdobramentos locais. E a economia brasileira não estaria ruim. “Enquanto não tivermos dependência do capital de curto prazo, não perco o sono”, completou o presidente do BC. Procurado por ISTOÉ, Fraga preferiu não falar sobre o tema.
O discurso de Fraga veio na hora certa. Contribuiu para o mercado financeiro encerrar a semana passada parecendo ter reencontrado motivos para estar otimista. A Bolsa de Valores de São Paulo fechou a quinta-feira 1º com uma valorização considerável de 3,3%, enquanto o dólar comercial recuou 0,3%. A entrada de investimento estrangeiro em bom volume e o resultado positivo da balança comercial em fevereiro, depois de seis meses consecutivos de déficit, foram os principais combustíveis para a onda favorável