estudante E., 12 anos, reclamou de seus professores e começou a chorar por causa da alteração da programação de uma festa em homenagem ao Dia das Mães, no Colégio Saint George, uma escola de classe média, no Brooklin, zona sul de São Paulo. A diretora foi chamada e teria discutido com o aluno. A mãe, a funcionária pública C. F., chegava naquele momento. “A partir de hoje, ele não estuda mais aqui”, garantiu a diretora da escola, Anna Ilda Barbieri, segundo relato da mãe. Ela conta que tentou conversar com a diretora, mas foi informada de que a decisão era definitiva porque o comportamento de E. interferia no desempenho dos outros alunos.

E. foi expulso da escola, segundo sua mãe, por ser uma criança hiperativa. Indignada com a atitude, C. denunciou o caso ao Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente de Santo Amaro e pretende processar a escola. “A diretora não agiu corretamente. Afinal, qual é o papel da escola? Meu filho precisava de ajuda, não de castigo”, lamenta C. “Tive de procurar o Conselho Tutelar para garantir o direito do meu filho estudar até o final do primeiro semestre.” O comportamento de crianças como E. pode ser facilmente confundido com um simples caso de indisciplina. Mas trata-se de um distúrbio genético chamado Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, provocado pelo desequilíbrio na quantidade de noradrenalina e dopamina, que são dois neurotransmissores (substância responsável pela comunicação entre os neurônios). A hiperatividade afeta 5% das crianças e adolescentes em todo o mundo. Desde os três anos, E. já apresentava um comportamento diferente das crianças de sua idade, conforme sua mãe. Mexia em tudo e não parava um segundo. O diagnóstico de um especialista confirmou tratar-se de uma criança hiperativa.

Mas as características comuns aos portadores desse distúrbio, como a inquietação e a impulsividade, não impedem a criança de frequentar uma escola normal, segundo os especialistas. “Nada justifica a expulsão. Sempre é possível tratar e controlar”, garante Ana Olmos, psicanalista infantil. O colégio alega não ter meios de dar atenção especial. “Tentamos adaptar nossa escola às necessidades do garoto, mas não temos profissionais com experiência nesse tipo de comportamento”, justificou a diretora Anna Ilda a ISTOÉ, ao telefone. A escola mostrou a cópia de um documento enviado ao Conselho Tutelar, no qual afirma que E. perseguia e ameaçava os colegas usando objetos pontiagudos. Também negou que o menino foi expulso e informou que apenas foi “sugerido” à mãe que procurasse uma escola que atendesse às necessidades do filho. “A vida que as crianças levam hoje na natação, no inglês e na aula de piano é hiperativa. Essa é uma doença moderna e deve ser pensada como tal”, analisa a psicóloga Adriana Marcondes Machado, do Serviço de Psicologia Escolar da USP.

Exclusão – Para o educador Mário Sérgio Cortella, professor de pós-graduação em Educação da PUC-SP, a escola precisa ter “uma sensibilidade aguçada” para lidar com esses casos. “Se a exclusão fosse a saída, teríamos as penitenciárias e Febems como instituições-modelo de educação. É no convívio que se lida com as diferenças”, acredita Cortella. Se for comprovado que a escola agiu de forma incorreta, ela pode ser advertida, segundo o presidente do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, Arthur Fonseca Filho.


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