Fotos: Sérgio Guerra
As mulheres mukubais numa lanchonete de Luanda, onde…

Conhecidas pelo costume de raspar a cabeça, as mulheres da etnia mukubal vivem no Sul de Angola e, como por ironia, produzem um óleo para cabelo extraído de raízes nativas. Com a careca encoberta por belos turbantes, uma vez por ano elas costumam deslocar-se para a capital Luanda, para vender o produto. Ao contrário de suas conterrâneas urbanas, as mukubais circulam pela cidade com o torso desnudo. Embora esse hábito seja pouco usual, ninguém ousa molestá-las. O registro de duas delas em uma lanchonete de Luanda está entre as instigantes imagens do livro Duas ou três coisas que vi em Angola, que o publicitário e fotógrafo Sérgio Guerra lança dia 21 na Câmara dos Deputados, em Brasília.

…o futebol também é paixão nacional

Situada no Sudoeste africano, há quatro décadas a república de Angola vem sendo devastada por uma guerra civil que não arrefeceu nem com a independência de Portugal, ocorrida há 25 anos. Aguçados durante a guerra fria, os conflitos já contabilizam um milhão de vítimas fatais e deixaram marcas trágicas. Em relação ao número de moradores, o índice de mutilados por minas é o maior do mundo – 70 mil pessoas. Estima-se que, naquele solo, exista uma mina para cada um de seus quase 13 milhões de habitantes. “Falando assim, parece uma condenação à morte para os angolanos”, reclama Guerra.

A guerra deixou marcas pelo país, como em casas da cidade de Cuito, perfuradas por disparos

“Angola não pode ser reduzida à miséria, à mutilação, à guerra”, diz o fotógrafo. “Esses componentes são reais, mas quando ressaltados reforçam o preconceito, o isolamento do país.” Não é por acaso, portanto, que, no livro, cenas de guerra se misturam com surpreendentes paisagens. Há três anos atuando no serviço de comunicação do governo de Angola, Guerra aproveitou o posto privilegiado para percorrer pontos inacessíveis a estrangeiros nas 18 províncias do país. “Com as próximas eleições, a tendência é de restabelecimento da paz”, arrisca. Como o Brasil, Angola terá eleições presidenciais em 2002.