Helena Bonham Carter estava aflita. Achava que ninguém a reconheceria sob aquela pesada maquiagem que a transformou numa símia. Até sua mãe aparecer no set de filmagens e dizer: “É óbvio que é você.” A atriz de Clube da luta ficou mais tranquila para continuar seu trabalho como Ari, a chimpanzé humanista da refilmagem de Planeta dos macacos (Planet of the apes, Estados Unidos, 2001), que tem estréia nacional na sexta-feira 3. Mamãe não teve dúvidas, boa parte dos fãs de Helena talvez também a identifique, principalmente pelos olhos. Mas o que o público decididamente não reconhecerá na versão dirigida por Tim Burton são a inteligência e a magia derivada do incômodo contidas no filme original, de 1968, conduzido por Franklin J. Schaffner. Normalmente bom diretor de ficção, Burton tem no currículo a positiva marca registrada do visual dark em fitas como Batman (1989) e Batman, o retorno (1995). Ou então o dom de criar fantasias com toques emotivos e surrealistas, como Edward mãos de tesoura (1990). Mas se deu mal ao invocar o clima de escuridão em sua transposição para as telas do romance de Pierre Boulle.

Nesta tentativa, ele só foi respaldado pelas novidades do fantástico mundo da invenção de Hollywood e pela grandiosidade de uma produção de US$ 100 milhões. Na verdade, a maquiagem de Rick Baker é a grande estrela de Planeta dos macacos. Ao contrário da primeira fita, na qual foi usado um único molde, Baker agora criou um tipo para cada espécie de macaco e uma rotina diária que obrigava os atores a estarem no set às duas da manhã para depois passarem por um processo de três a quatro horas sob os cuidados do maquiador. Assim, vêem-se máscaras impressionantes do chimpanzé-gorila Thade, raivosamente interpretado por Tim Roth, do orangotango Limbo, papel do comediante Paul Giamatti, ou da própria Ari, de Helena Bonham Carter. Claro que os efeitos especiais também são superiores. Afinal, passaram-se 33 anos desde que Charlton Heston interpretou o atlético astronauta George Taylor, que cai num planeta desconhecido totalmente dominado por macacos.

Quem desta vez teve o azar de sair da assepsia de uma estação espacial para ir parar no primitivo e selvagem mundo dos símios é Mark Wahlberg, no papel de Leo Davidson. Na atual versão, os humanos escravizados falam, mostram-se menos amedrontados e mais glamourizados. Outro problema é como Burton desenvolveu a história do astronauta que, ao contrário do que pensava, não estava em outra órbita, e sim o tempo todo na Terra. A nova versão também não causa perturbação nem questionamentos, como no trabalho de Schaffner. É apenas uma aventurinha bem produzida, com um final a quilômetros do impacto do filme original.