Tirado de uma expressão popular alemã, o título do filme Gotas d’água em pedras escaldantes (Goutes d’eau sur pierres brûlantes, França/Japão, 1999), do francês François Ozon, em cartaz em São Paulo na sexta-feira 3, se refere a causas perdidas, impossíveis. É um pouco o que acontece com o jovem Franz (Malik Zidi), um desocupado de 19 anos, que resolve ir morar com o solitário Leopold (Bernard Giraudeau), homem de negócios cinquentão e bem-sucedido, saído de uma relação com um transexual. Completamente seduzido pelo predador Leopold, o garoto esquece a namorada, Anna (Ludivine Sagnier), e tenta viver um romance que em pouco tempo se reduz a agressões e a um cotidiano feito de egoísmo e intolerância.

Baseado numa peça escrita aos 19 anos pelo cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder, morto em 1982, Gotas d’água… se desenvolve como um jogo de xadrez em quatro atos, que termina num xeque-mate fulminante. É impressionante ver como nesta obra, nunca encenada ou adaptada, Fassbinder já tinha amadurecida a sua visão pessimista sobre o poder nas relações amorosas. Fiel ao estilo do alemão, Ozon preservou a estrutura teatral do enredo, filmando quase toda a história num cenário único. Mas, felizmente, o resultado não é um preguiçoso teatro filmado. Detalhista, o cineasta capta as mínimas expressões dos atores, revelando emoções que só o cinema propicia. Logo no início do filme, ele registra a reação de pânico de Leopold diante do comentário feito por Franz em relação a seus 50 anos. Na peça, o personagem tinha 35 anos, mas Ozon sabiamente o envelheceu 15. Reforçou, assim, o pesado clima germânico, bem de acordo com as idéias de Fassbinder, para quem o amor era mais frio que a morte.


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