Duma rápida olhada em torno da casa noturna parisiense Moulin Rouge, nota-se que todos os letreiros insistem na repetição Sex, Sex, Sex. Já era assim nos anos 30, quando o escritor americano Henry Miller lançou seu romance Dias tranquilos em Clichy, referência à rua e ao bairro de Paris. E ainda é. Só que, no momento, acrescentado de gloriosas tintas pop. Mais especialmente executadas por Robert Crumb, o festejado autor americano de histórias em quadrinhos underground, internacionalmente conhecido por ter feito a capa do lendário álbum Cheap thrills, do Big Brother & The Holding Company, com Janis Joplin nos vocais. Crumb está expondo no Musée de L’Erotisme, a poucos metros do famoso Moinho Vermelho, na mostra The sex obsession of R. Crumb (A obsessão sexual de R. Crumb), em cartaz até 11 de outubro. O evento ocupa todo o sexto andar do museu, um verdadeiro Louvre da arte erótica, local ideal para exibir o trabalho de Crumb, cujo único elo entre todos os seus desenhos é a paixão obsessiva por mulheres dominadoras, de todas as raças, credos e classes sociais.

Nascido na Filadélfia, em 1943, Crumb trocou a Califórnia pelo Sul da França. Há seis anos vive na pacata Sauve, ao lado da segunda mulher, Aline, e da filha, Sophie – a casa em que mora foi conseguida em troca de desenhos. Invariavelmente autobiográficos, seus quadrinhos são apinhados de figuras femininas de pernas grossas, traseiros empinados e seios proeminentes, como as que agora preenchem as paredes do Musée de L’Erotisme. São imagens tresloucadas, que ladeiam os originais de histórias inéditas, repletas de fêmeas demoníacas, além de quadros isolados como o dedicado à rechonchuda estagiária Monica Lewinsky, de shorts, trazendo pizzas para o ex-presidente americano Bill Clinton. Fritz, the cat, Shuman, the human, Flakey Foont e Mr. Natural, personagens masculinos da galeria crumbiana, também estão lá, salivando e fazendo papel de coadjuvantes para as deusas calipígias.

O artista, cujos desenhos hoje podem ser vistos pendurados em casas de milionários ao lado de Picasso, Hockney ou polaróides de Warhol, esteve presente ao vernissage, em março passado, tocando banjo com seu conjunto Les Primitives du Futur. Para marcar sua irreverência, logo à entrada da exposição, Crumb colocou um auto-retrato no qual, ajoelhado, promete nunca mais expor suas fantasias sexuais em histórias em quadrinhos. No cartaz da mostra, retrata-se no centro de um alvo “para feministas atirarem dardos”. Bobagem pop, porque num museu como este Robert Crumb sente-se em casa.