Durante as próximas semanas São Paulo vai sediar trabalhos dos artistas espanhóis mais célebres do século XX. A exposição De Picasso a Barceló chega à Pinacoteca do Estado, em São Paulo, a partir da quarta-feira 1º, com 103 obras de 73 artistas, após levar 200 mil pessoas ao Museo Nacional de Bellas Artes, de Buenos Aires, em apenas 28 dias. A mostra é formada quase que exclusivamente por trabalhos pertencentes ao acervo do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, de Madri, fundado em 1986, e hoje um dos principais espaços europeus dedicados à arte contemporânea. É lá que, majestosamente exposto, se encontra o célebre quadro Guernica, de Pablo Picasso.

Um dos destaques do evento da Pinacoteca são justamente três estudos elaborados pelo pintor, em 1937, para a composição da tela polêmica. Eles poderão ser vistos ao lado das não menos famosas Cabeza llorando V, de 1937, e Cabeza de mujer (Fernande), de 1910, aquisição recente do museu espanhol e que ainda não foi lá exposta, a exemplo de Estudio de las esculturas (1993), de Miguel Barceló, artista contemporâneo conhecido pelas telas e esculturas de caráter conceitual e abstrato e cuja obra é descrita pelo próprio como violenta, pungente e rude. Obedecendo a curadoria de María José Salazar Herrería, do Reina Sofía, a exposição é dividida em três núcleos. No primeiro, Picasso e seu ambiente (1900-1939), estão agrupados artistas do porte de Salvador Dalí (El enigma sin fin), Joan Miró (Mujeres, pájaros en la noche), Maria Blanchard (Mujer com abanico) ou Juan Gris (Guitarra y compotera). O segundo núcleo, Arte para depois de uma guerra (1939-1975), composto por artistas discordantes do fascismo, traz paisagistas como Benjamín Palencia (Paisaje) e Maruja Mallo (Canto de espigas) e a geração abstrata de Martin Chirino (Mi patria es una roca) ou Antoni Tápies (Azul y dos cruces).

Para o terceiro, Novas gerações (1975-2000), foi elaborada uma panorâmica da produção espanhola recente, com obras do citado Barceló, Eduardo Arroyo (Carmen Amaya frie sardinas en el Waldorf Astoria), o casal superstar Cristina Iglesias (Sem título) e Juan Munõz (Plaza Madrid) e a chamada Equipo Cronica, formada por Rafael Solbes e Manuel Valdés, que apresenta Mr. Cézanne en el carrer Avinyó e Juan Usle com Wrong transfer – Lineas replicantes, considerados os artistas contemporâneos espanhóis mais badalados do momento.

Tamanha quantidade de obras requer um planejamento minucioso. Frances Reynolds Marinho, presidente do Instituto Arte Viva, entidade produtora do evento e responsável pelo êxito de Esplendores de Espanha – de El Greco a Velázquez, que maravilhou o Rio de Janeiro no ano passado, conta com uma equipe de restauradores que acompanha as obras e cuida pessoalmente da escolha dos profissionais que montam as exposições. Na Argentina, por exemplo, a concepção cenográfica ficou a cargo da brasileira Daniela Thomas. Para a mostra da Pinacoteca, o tratamento é do próprio anfitrião, o diretor Emanoel Araujo. Promovendo um verdadeiro diálogo com os trabalhos expostos, os salões foram pintados conforme os temas e subtemas – de um púrpura profundo a um verde-água.

Públicos diferentes – Para evitar o acúmulo de informação, parte das esculturas está exposta nos corredores que levam às salas. Lá estão obras de artistas como Joan Miró, que comparece com O rei guerreiro, Alberto Sánchez, com Maternidad, e Júlio López Hernández, com Pareja de artesanos. Nem mesmo brincadeiras faltarão à mostra. Para encantar as crianças, o Instituto Arte Viva montou um espetáculo de fantoches argentinos encenado pelo grupo brasileiro Truque. Esta movimentação em torno de públicos diferentes acabou atraindo a adesão definitiva da Telefonica aos projetos do instituto, como conta a argentina Frances Marinho, carioca por adoção, que já dirigiu o departamento de televisão da Warner Brothers, em Nova York. A empresa espanhola patrocinou integralmente o evento, desembolsando US$ 2 milhões. Enquanto reforça o trânsito Espanha-Brasil-Argentina, num ir-e-vir de artistas e curadores, Frances já anuncia para abril de 2002 uma megaexposição focalizando a arte espanhola do século XVIII. Arriba Espanha!.