Em uma sexta-feira de praia perfeita, com o sol conferindo cores vivas à areia branca e ao azul do mar, Maresias, no litoral paulista, estava cheia de graça para o caiçara mais famoso do pedaço. De passagem relâmpago pelo lugar onde se criou e aprendeu todos os macetes que o tornaram o surfista brasileiro a ir mais longe no circuito mundial de surfe (WCT), o paulista Gabriel Medina, escolhido Brasileiro do Ano no Esporte por IstoÉ, experimentava momentos hollywoodianos. O quarto de sua confortável casa de dois andares e piscina, localizada em um condomínio luxuoso a poucos passos da areia, tinha as janelas fechadas, o zunido do ar-condicionado e, ainda assim, era possível ouvir os gritos vindos da portaria: “Medina! Medinaaa!”. Por aquelas bandas, uma multidão ronda o jovem de 20 anos a cada deslocamento dele, que lamenta: “Estou perdendo a privacidade.”

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Medina, o Neymar do surfe, sabe que a tendência é piorar. Por causa do assédio, a ida à padaria ou à sorveteria não leva mais 15 minutos como antigamente. Balada em Maresias? Esquece. Abusado como o parceiro dos gramados, o atleta arrisca manobras com alto grau de dificuldade e é um fenômeno de publicidade. “Temos que nos superar para acompanhá-lo. É como tentar alcançar um Tiger Woods”, diz Kelly Slater, numa comparação com a lenda americana do golfe, o americano 11 vezes campeão do mundo. Em algumas baterias do WCT, Slater foi derrotado por Medina. Ninguém no circuito é tão atirado quanto o brasileiro. Voar literalmente alto para assinar uma apresentação com a sua manobra mais famosa, o aéreo 360º, é o que mais o deixa feliz.

“O Gabriel chegou no circuito sem medo de arriscar. As manobras aéreas, inovadoras não eram vistas antes dele”, diz o padrasto Charles Rodrigues. Ele entrou na família um ano depois que Simone Medina, mãe do surfista, se separou do pai do jovem surfista. Medina tinha 8 anos e começava ali a parceria que o levaria ao topo do esporte. “Meu pai (como ele chama Charles) já me levava a sério desde moleque. Eu não era nada, mas ele me treinava igualzinho ao que fazemos hoje”, conta. Com 12 anos, corria na rua durante meia hora pela manhã e engatava uma hora de natação. No fim da tarde, quando retornava do colégio, encarava uma sessão de ioga e um treinamento à base de ginástica corporal.

Com o padrasto burilando o talento do enteado, Simone, uma ex-vendedora de loja, se encarregava da educação do filho, que lavava a louça, cuidava do irmão Felipe, dois anos mais novo, e pegava ônibus para ajudar nas compras. “A gente morava longe, eu era molequinho e voltava cheio de sacola para casa”, lembra Medina, que ainda vendia latas que recolhia nas ruas. Com 15 anos, ele venceu uma etapa do circuito de acesso, o WQS. Com metade da premiação de R$ 25 mil, realizou um antigo sonho e comprou um quadriciclo. Dois anos mais tarde, em sua temporada de estreia, venceu duas etapas e começou uma escalada profissional e financeira.

Medina termina o ano com R$ 1 milhão em prêmios, mas garante: “Peço dinheiro aos meus pais quando quero sair”. E agora sonha em morar sozinho. “Mas minha mãe não deixa”, diz. Paparicado pela ala feminina e vaidoso – gosta de depilar o peito, tirar os pêlos da sobrancelha e andar perfumado –, teve apenas um namoro, na adolescência. Neste ano, encarou quatro meses de abstinência sexual. “Sexo em dia de competição atrapalha”, diz ele, que, dois anos atrás, foi mal em um torneio depois de um encontro quente com uma garota horas antes. “Não faço mais sexo desde o início até o fim de um torneio.” A notícia boa para Medina é que surfar para valer, agora, só em 2015. A boa notícia para as fãs: ele vai passar as férias em Florianópolis.

Foto: Pedro Dias/Agência Istoé