Pouco antes de morrer, em 1999, o general João Baptista de Oliveira Figueiredo teria entregue cerca de R$ 300 mil para um assessor fazer aplicações financeiras. Esse dinheiro nunca mais voltou para sua conta. Nome, endereço e CPF do assessor eram conhecidos, mas nada pôde ser feito para provar o sumiço do dinheiro e o caso ficou por isso mesmo. O episódio talvez tenha sido o início de uma fase de contenção financeira da família de João Figueiredo, o último presidente do regime militar (1979 a 1985). Agora, a viúva Dulce provoca polêmica por vender, através de leilão (de 13 a 20 de março, no Rio), objetos do espólio do marido. É a primeira vez, no Brasil, que relíquias de um presidente podem ser compradas pelo público. Johnny, um dos dois filhos de Figueiredo, disse a ISTOÉ que, se aparecer um bom preço, “vamos vender também o apartamento de São Conrado (no Rio) e o Sítio do Dragão (em Petrópolis)”. E brincou: “Só não vamos vender os filhos.” Seu irmão, Paulo, atribui a decisão exclusivamente à mãe Dulce. “Ela decidiu pelo leilão e não questionamos seu direito”, explicou.

A precariedade da situação financeira da ex-primeira-dama, hoje com 73 anos, é o provável motivo da iniciativa. De pensão, Dulce recebe quase R$ 9 mil por mês. Mas os tempos de fartura acabaram. Recentemente, o governo cortou das ex-primeiras-damas benesses como carro, motorista e segurança. Johnny disse que as despesas com o apartamento onde a mãe mora, no sofisticado condomínio Praia Guinle – onde moram o cantor Gilberto Gil, a empresária Lilibeth Monteiro de Carvalho Marinho e o prefeito Cesar Maia –, em São Conrado, no Rio, ficaram proibitivas para o atual padrão financeiro dela.

O leilão, que teve início na terça-feira 13, poderá render algo em torno de R$ 300 mil, segundo o leiloeiro Roberto Haddad. Veteranos do mercado, entretanto, apostam que esse valor deve ser dobrado devido à polêmica. Isto porque está em jogo o acervo de um presidente da República. Representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) consideram que 31 das 200 peças selecionadas por Dulce deveriam pertencer ao Museu da República por serem de interesse histórico. “Normalmente, as famílias dos ex-presidentes nos procuram para fazer doações”, disse Anelise Pacheco, diretora do museu. “É de se estranhar que eles só tenham tido interesse agora”, comentou Paulo Figueiredo. Ao ser perguntado se a família planeja doar objetos ao Patrimônio, Paulo foi lacônico: “Nunca conversamos sobre o assunto.”