Cantores e compositores da MPB usarem a fama para criticar o governo e a classe política é algo que caiu em desuso há duas décadas. Desde o fim da ditadura militar, o tema prioritário de músicos e intérpretes voltou a ser o amor e suas dores – com exceção de algumas manifestações contra o mensalão. Nas últimas semanas, no entanto, figurões da música brasileira se manifestaram publicamente contra o Executivo e o Legislativo num refrão de protesto inédito – a alta carga tributária no País. Em seu novo CD, Matizes, Djavan até incluiu uma música chamada Imposto. “Pra quem vai tanto dinheiro? / Vai pro homem que recolhe / O imposto”, diz um trecho da letra. O cantor Seu Jorge também anda botando a boca no mundo. Ele diz que sobre qualquer coisa incide R$ 100 mil, R$ 300 mil de impostos. Em tempos de votação pela prorrogação da CPMF, o assunto está em alta. Dono do próprio selo, Djavan diz que sua indignação contra o excesso de tributos é social. “Não fiz a música pensando em mim. Quem ganha menos é o que mais sofre”, diz ele. O debate promete fortes emoções, já que está longe do consenso. O cantor e compositor Zé Rodrix, por exemplo, pensa diferente: “Quando alguém reclama dos impostos, isso não tem conotação social ou política. O indivíduo está querendo apenas defender o dele.” Em outras palavras, trata-se somente de um protesto de ocasião.

Djavan conta que Imposto nasceu naturalmente. “Uma música como essa não precisa nem de inspiração para fazer, basta viver no Brasil”, diz ele. O problema, segundo o artista, não é pagar impostos, mas, isso sim, não ver o seu retorno em boas escolas, bons hospitais e boas estradas. Ele critica a observação feita pelo presidente Lula que citou a taxação maior de países da Europa. “A comparação é ridícula, é uma falta de bom senso. Paga-se uma fortuna de impostos na Inglaterra, mas os serviços lá são correspondentes”, diz Djavan. Seu Jorge vai além. Aderiu ao movimento Cansei e não teme ser rotulado de elitista. No outro extremo, Zé Rodrix concorda que a carga tributária é absurda, mas faz uma ressalva: “Isso acontece há muitos anos.” E pede coerência a quem anda reclamando: “Se o artista reclama de imposto alto, tem então de abrir mão dos benefícios da lei que dá isenção fiscal.” Recentemente, Zé Rodrix abandonou a equipe de um espetáculo musical ao saber que seria financiado com a Lei Rouanet de incentivo à cultura. “A classe artística espera que o Estado faça o papel do mercado e viceversa”, diz ele.

Artista que abriu guerra contra as gravadoras e lançou CDs independentes em bancas de jornal, o roqueiro Lobão entende de carga tributária como pouca gente entende. “O Djavan nunca se manifestou sobre esse assunto. Agora tem a sua gravadora independente e por isso vem falar. Mas tudo bem, antes tarde do que nunca”, diz Lobão. De volta agora a uma grande gravadora, ele também reclama da péssima infra-estrutura do Brasil, que deveria ser melhorada com os tantos impostos, tributos e contribuições. No caso específico da música, Lobão sugere a isenção do ICMS para os CDs, como acontece com os livros: “Seria possível vender discos a R$ 14,90.” Com sua música, Djavan pretendia chamar a atenção para o assunto, e conseguiu. “A indignação com isso é geral e a identificação do público com o meu protesto tem sido muito grande”, diz ele. Djavan considera que os parlamentares se desconectaram totalmente do povo. E bate duro e direto: “O dinheiro que entra só é usado para engordar os políticos.”