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O repórter Raul Montenegro explica quem são os agressores e por que eles atacam gays. 
 
 

O jovem Marcos Vinícius de Souza, 19 anos, havia acabado o ensino médio e passava os dias em busca de oportunidades de emprego. Para se distrair, frequentava festas. Seu destino preferido de fim de noite era o portão 3 do Parque do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, um ponto de encontro de gays. Às 5h30 do domingo 16, Marcos se distanciou dos amigos e foi assassinado a facadas. Como nada foi levado, familiares acreditam se tratar de homofobia.

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A polícia ainda não tem pistas. Mas os responsáveis por acompanhar esse tipo de crime, que ocorre em todo o Brasil, mas principalmente no Norte e Nordeste, já conseguiram traçar uma espécie de perfil dos agressores de gays. A maioria tem formação cultural conservadora. “Eles vêm de famílias muito autoritárias”, afirma Luiz Mott, antropólogo e fundador do Grupo Gay da Bahia (GBB). Muitas vezes agem em grupo. E atacam conhecidos – o vizinho, o parente… Nos últimos quatro anos, o número de denúncias relacionadas à homofobia cresceu 460%, segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. A cada hora, um homossexual sofre algum tipo de violência no Brasil.

Uma semana antes de Marcos Vinícius ser assassinado, um casal foi agredido por cerca de 15 homens no metrô paulistano. O metroviário Danilo Putinato, 21 anos, e o bancário Raphael Martins, 20, trocavam carinhos quando o grupo entrou no vagão e passou a agredi-los a pontapés. “Falaram para a gente parar porque estávamos irritando eles”, diz Martins, que levou um chute no nariz e passará por uma cirurgia reparadora. O caso é investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. De acordo com a delegada Daniela Branco, o casal pode ter sido agredido por uma torcida organizada.

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Ataques homofóbicos feitos por grupos são comuns. Em janeiro, o estudante Bruno de Oliveira, 18 anos, foi assaltado e morto com um golpe de skate na região da rua Augusta, centro de São Paulo. Seis jovens foram presos. “Alguns garotos foram pelo efeito manada”, diz o delegado Carlos Battista. Na maioria das vezes, crimes são praticados por pessoas próximas. Gabriel Kowalczyk, 18 anos, foi agredido duas vezes perto de sua casa, em Interlagos, zona sul paulistana. Na última, em setembro, foi atacado por três homens. Ele acha que alguém do bairro pode ter ordenado o espancamento. “Você quer ser mulher? Então agora vai apanhar como mulher”, repetiam os agressores. Casos bárbaros se espalham pelo País e o quadro está longe de melhorar, afirma Mott, já que medidas de combate ao problema foram barradas. Ele se refere à criminalização da homofobia, freada pelo Planalto, e ao material escolar contra a homofobia, o kit gay, que teve sua distribuição cancelada por pressão da bancada evangélica do Congresso.

Foto: João Castellano/AG. ISTOÉ